Uma arara (Arquivo JRS) |
Numa manhã, conforme hábito, Ditão passou pelo meu portão para uma prosa. É madrugador o danado. Sempre tem um causo de gente que faz parte da minha história.
"Você se lembra do Toninho, Zé? Ele morava na praia do Lamberto, era filho do Manelão (que me ensinou muita coisa sobre mecânica de máquinas e caminhões). A gente jogava bola juntos. Era goleiro dos bons. Naquele tempo, mais ou menos quarenta anos atrás, só tinha um dentista na cidade. Atendia ali, na rua da Liberdade, perto do campo de aviação. diziam que era bom, mas era careiro. Certa vez o Toninho estava com um dente muito ruim, precisando extrair. Foi quando ficou sabendo que, no Sertão da Quina, lá longe, tinha outro dentista, era bom e cobrava baratinho. Você sabe que o Toninho foi lá, atrás desse dentista? Embarcou no ônibus cedo, desceu no Sapê e andou até lá em cima, no Sertão. Chegou lá passando da hora do almoço. O dentista não estava em casa, mas o vizinho recomendou que ele esperasse um pouco. De fato, logo veio. Estava no bar porque gostava de uma pinguinha. Escutou o caso e já foi mandando o Toninho sentar na cadeira. Errou a anestesia, aplicou na língua. Pegou a ferramenta dele, engatou no dente e fez força. O Toninho disse que se mijou de dor, mas o dente foi extraído. Ele pagou e voltou para casa com a língua dura. A dor continuava na semana seguinte do mesmo jeito. O jeito foi apelar para o dentista da cidade. sabe o que aconteceu? O primeiro tinha arrancado o dente errado. Resumindo: ele perdeu dois dentes e gastou mais dinheiro. Mais tarde soubemos que o dentista do Sertão da Quina era bom mesmo, mas apenas na parte da manhã, quando ainda estava sóbrio. Depois que retornava do bar, ninguém mais tinha confiança em seu serviço. A gente vive cada situação, né Zé? Por isso que toda vez que a gente se encontrava, tinha a gozação: 'já tirou o dente, Toninho?'. Que Deus o tenha".
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