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Meu filho na trilha do Baguary (Arquivo JRS)
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SEMANA SANTA
Fomos todos para roça, estava uma noite muito bonita. Chegando lá ficamos conversando perto do fogão de lenha. Assamos carne e tomamos uma cerveja gelada.
Meu irmão levantou-se e disse: "Vou no mato buscar um tatu". Minha mãe não gostou : "Não vai não, é semana santa, não pode caçar". "Eu não vou caçar, só vou buscar a gaiola. Se o tatu tiver lá eu trago, se não tiver nada eu venho logo", ele explicou. "Fica aqui com a gente, bobagem ir lá", a mãe insistiu. "Eu não vou demorar", disse ele e saiu.
Ficamos lá e meu irmão, teimoso, foi. O tempo foi passando e já era tarde, quase uma hora da madrugada. Foi quando chegou o Almir, branco, carregando um bambu. Olhamos para ele e perguntamos: "O que aconteceu? Você está pálido!". "Vocês não vão acreditar no que vou contar! Eu subi no mato e quando cheguei perto da gaiola, a gaiola começou a mexer. Eu pensei que o tatu estava lá comendo, aí eu resolvi subir na árvore para esperar a porta da gaiola cair. Como estava demorando, subi num galho da árvore perto de um bambuzeiro. De repente o bambuzeiro começou a balançar e fez um barulho muito forte ali, igual a uma serra elétrica. Eu comecei a ficar com as pernas moles. Não ventava, era só ali no bambuzeiro, mas era de sujar as calças. Comecei a rezar e pedir para Deus ter piedade de mim, que aquilo parasse, que eu ia embora e soltava o tatu...eu quase chorei de pavor. Foram horas de barulho. A impressão que dava era que estava tudo caindo, e o bambu sendo serrado, um a um. Quando parei de rezar, o barulho parou. Desci correndo e larguei tudo. Vim embora".
Minha mãe falou: "Falei para não ir lá, né?"
Fomos dormir e, ao amanhecer o dia, fomos ao lugar e os bambus estavam todos retalhados, cheio de marcas, parecia trabalhado. Era incrível ver aquilo, ninguém acreditava no que a assombração fez em todos os bambus. Pegamos um e guardamos para mostrar.
Meu irmão nunca mais conseguiu esquecer o que se passou. A gaiola ficou em mil pedaços. Nunca mais ele caçou. Todos que veem o bambu não acreditam.
(Autora: MCS)
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