segunda-feira, 5 de abril de 2021

UM ESTRONDO MEDONHO

 


"Nesse morro era a roça do Velho Firme" (Arquivo JRS)


      Certa vez, criança ainda, pescando com o meu pai perto da Ilha Anchieta, ele me falou, apontando para um morro que se destacava: “Aquele é o Morro do Papagaio, onde há muito tempo um avião caiu, não se salvando quase ninguém”. Em seguida, olhando para a Ponta das Toninhas, continuou: “Foi no mesmo ano em que aconteceu ali um acidente que até hoje ninguém explica o que foi”. Aí eu me interessei mais, querendo saber mais detalhes. Então ele me explicou aquilo que havia escutado de alguém: “Quem me contou foi a Dorcelina, que nasceu, se criou e ainda mora ali no canto das Toninhas. Me disse que era hora do almoço quando uma luz muito forte veio rente ao mar. De repente ela subiu e houve uma grande explosão, assustando todo mundo. Pedaços de metais voaram pelos ares e uma coisa maior afundou no mar. Todos pensavam que era o fim do mundo. Logo três navios chegaram ao local. Os moradores receberam a ordem para ficar em casa e de entregar qualquer coisa diferente que achassem na praia, ao redor de suas casas ou na roça. Depois retiraram o que tinha afundado, recolheram mais coisas por ali e se foram. Nunca deram satisfação do que aconteceu naquele lugar”.


     Fiquei com aquela história na cabeça até que, em 1980, conheci o Seo Miguel Firme morando na beira do campo de futebol do Itaguá. Quando ele me disse que nascera na costeira das Toninhas, me despertei para a história da Dorcelina, da tal coisa que explodira no mar. E Ele confirmou:

        “Foi mesmo, rapaz. Eu morava lá ainda, perto do meu pai, mas já era casado. Foi um estrondo medonho daquela claridade que vinha acompanhando o mar. Não tinha como não perceber que era uma coisa muito diferente, capaz até de ofuscar o sol do meio do dia. Aquilo brilhante, chegando perto da ponta, no parcel, subiu uns trinta metros e se arrebentou, voando cacos para todo lado. Na nossa roça mesmo caíram vários, de tamanho até maior que uma mão. Na mesma hora, o pai do Bito Cristóvão, que era inspetor de quarteirão, se mandou para a cidade a fim de notificar as autoridades. No dia seguinte, bem cedo, três navios da Marinha estavam próximos do lugar do acidente. Desembarcou um monte de gente na nossa praia; foram logo ordenando que ninguém saísse de casa, nem ficasse vendo o trabalho que seria feito. Depois de recolherem pedaços daquela coisa na praia, ainda deram ordem de ninguém guardar nenhum objeto estranho em casa, nem daqueles pedaços. Caso achassem, deveriam entregar a eles ou à autoridade, ao delegado da cidade. Ele saberia qual encaminhamento dar. Só que até o dia de hoje nunca mais falaram nada a respeito do que aconteceu ali, nas Toninhas”.  Quando eu perguntei em que ano isso aconteceu, ele, citando a idade de seu filho, afirmou: “O Miguelzinho ainda era pequeno. Então foi pouco depois de 1955”.

     Dias atrás, voltei a pensar no assunto gerado na fala do meu finado pai. Fui buscar na imprensa da época alguma notícia do tal acidente. Achei na Revista O Cruzeiro, de 1960. "Seria um disco voador que se deu mal, voando tão próximo da água?". Comentei brincando assim com a minha família. Na mesma hora fui incentivado a publicar algo a respeito. Assim nasceu este texto.


Em tempo:    Deixo aqui a referência para quem quiser saber mais detalhes: 

http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=003581&Pesq=discos%20voadores&pagfis=130455


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