"Velho Giró" na praia da Enseada (Arquivo Família Prochaska) |
Relendo Joatão e a ilha, um romance ambientado no presídio que funcionou por meio século na Ilha Anchieta, em Ubatuba, me deparo com esta sensibilidade:
Um barco de pescadores caiçaras, quase igual ao dos presidiários, voltava do alto mar, passou perto. Martim e Zé Trindade acenaram amistosamente; os caiçaras retribuíram, sorriso aberto nos lábios.
Joatão abismou-se. De onde vinham aqueles homens tão cedo da manhã? A canoa arreada, superlotada, quase fazendo água: peixe demais pesando no casco, ameaçando adernar a frágil embarcação. Levantou os olhos para o oceano e se perdeu no fundão do mar. Que coragem a daqueles caiçaras, avançar mar adentro naquela casca de noz! Severino contara-lhe muita coisa desses intrépidos pescadores que saem da orla ainda de madrugada, empurrando as canoas para a arriscada aventura no mar. Enfrentam o oceano, o barco é pequeno, frágil demais, não vira; pequeno demais para que o mar dele se aperceba. E então some na imensidão esverdeada, ao balanço das ondas, desaparece da vista do observador terrestre. Os caiçaras nada temem; sabem que o mar é vasto mas seus mínimos movimentos são de amor à terra. Por isso voltam, o mar não os engana. São íntimos: sabem quando o mar não os quer, quando prefere que eles, pescadores, fiquem em terra. E quando se largam no mar tudo enfrentam sonhando os cardumes de peixes, a boa sorte que a qualquer instante pode surgir. e assim lutam, assim vivem, assim morrem sempre enamorados do mar...
É realmente um belo trecho, Zé!
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