Praça da Matriz no início do século XX (Arquivo Ubatuba) |
A 4 de julho de 1875, por iniciativa dos paulistas José Bernardo Gonçalves Duarte e Alfredo Augusto da Silveira, foi fundado o Gabinete de Leitura Ateneu Ubatubense, cujo fim era a instrução dos seus associados, mantendo uma biblioteca particular para uso exclusivo da associação. Teve a glória de iniciar a vida social a diretoria composta dos seguintes senhores:
Presidente: tenente-coronel Francisco Gonçalves Pereira; vice-presidente: Alfredo Augusto da Silveira; 1º secretário: Francisco Maria da Costa e Paiva; 2º secretário: tenente Antonio Marçal dos Santos; tesoureiro: Francisco de Paula Soares Viana; bibliotecário: José Bernardes Gonçalves Duarte; procurador: Luiz Domiciano da Conceição.
A introdução deste cabe a Esteves da Silva e foi escrito quando acabava o século XIX. Mas por que comecei com esse recorte? É porque a rua que nos interessa hoje é a Coronel Domiciano, aquela que cruza o centro da cidade, passando defronte a Biblioteca Pública, na praça 13 de Maio, a duzentos metros da praia. Pensei no personagem da nossa história; reparei que ele estava como procurador no nascimento do primeiro espaço voltado à leitura, aos leitores, na vida desta Ubatuba. Até sublinhei o texto. O acaso dá sentido à rua que lhe homenageia por passar na entrada da nossa biblioteca!
Dele escreveu o dr. Antônio Paulino de Almeida, em 1937, por inauguração da rua em seu nome, substituindo a denominação anterior de Esperança. É de seu texto que extraímos a seguinte informação:
Filho de Ubatuba, Luis Domiciano da Conceição se tornou farmacêutico e professor, chegando ao cargo de diretor do grupo escolar Dr. Esteves da Silva. "Conheci-o já velho e enfermo. Foi por uma manhã do mês de Agosto de 1916, quando dirigindo-me à esta cidade a fim de assumir o exercício do cargo de promotor público da comarca, encontramo-nos a bordo de um pequenino navio costeiro. Vinha ele de sujeitar-se à melindrosa intervenção cirúrgica, na Capital, onde havia permanecido por vários meses. Ao pisarmos as areias brancas de nossas praias, tive ensejo de notar o grau de estima que os ubatubenses lhe devotavam, pelo elevado número de pessoas que compareciam ao seu desembarque no porto da Prainha. Desde esse dia não mais nos separamos, porque o cel. Luis Domiciano era como que o oráculo da cidade, cujas palavras eram por todos acatadas, cujos conselhos eram por todos ouvidos.
Aos seus atos de benemerência, direi apenas que, por muitas vezes era ele encontrado, em altas horas da noite, afrontando as ventanias, para, de lanterna em punho, apoiado em uma bengala, socorrer a algum enfermo nos mais distantes arrabaldes da cidade, - ele, que bem o sabia, estarem próximos os seus dias.
Aposentado, mantinha sua modesta farmácia, quase que exclusivamente destinada aos pobres. Mal podendo comunicar-se pela palavra falada, servia-se de uma pequena lousa, em que escrevia o que queria. E porque não o amedrontasse a lembrança da morte, - todas as noites reunia os amigos em sua residência, distraindo-se ao lado dos jovens que rodopiavam pela sala, ao som da música, - hábito que conseguiu manter até a véspera de seu falecimento, fosse para iludir-se ou para disfarçar a tristeza íntima que envolvia o seu espírito".
Interessante mesmo é o final do texto:
"E se algum dia, alguém perguntar-lhe quem foi o coronel Domiciano, poderão vocês, - crianças de Ubatuba - responder com firmeza:
- Não tivemos a felicidade de conhecê-lo. Mas, de um peregrino que por aqui passou, soubemos ter sido um Ubatubense Ilustre, e, sobretudo, - um justo e um bom".
Enfim, o fim! Ainda não encontrei nada se referindo à atuação política de Coronel Domiciano, mas sabemos que, quem tinha título assim, da nobiliarquia republicana, representava uma força politica importante. Quem sabe alguém se interesse em pesquisar, em ir muito além deste resumido texto que aqui deixo. Quem sabe ?
Conclui-se, então, que a homenagem ao coronel Domiciano é justíssima!
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