quinta-feira, 22 de abril de 2021

A MASSA DA MANDIOCA

Raízes de mandioca (Arquivo JRS)



      Fui até a casa do meu sogro buscar umas mandiocas. Num restante do lote, pequeno, ele cultiva umas ramas e sempre tem raízes frescas.  Um pouco de prosa; umas saudades dele, de quando era bem jovem, recém casado... "Dito Vitu cuidava da horta no nosso terreno que era bem grande. Tinha de tudo. Saía com um carrinho, depois, vendendo abacate, jabuticaba, limão e verduras pelas ruas. Era um tempo bom. Toda noite eu rezo pela alma dele". Só não me demorei muito porque o momento do almoço se aproximava. Pelo caminho fiquei pensando no sistema de trabalho de meia, às meias; meio a meio. Na maioria das vezes era porque alguém, sem terra, entrava numa parceria com a mão de obra e recebia parte da produção. Era comum entre os caiçaras antes do advento do turismo.

      Na produção de farinha de mandioca, antigamente, eu testemunhei vários casos de produção à meia. Às vezes era porque um dos parceiros não dispunha de viamento (equipamentos da casa de farinha), mas tinha raízes e gente para trabalhar. Podia acontecer também de um dos pares ter a safra e o viamento, mas não possuir mão de obra. Ambos saíam contentes nessa relação, nesse regime de trabalho. Ainda não perguntei ao meu sogro se esse era o caso do Dito Vitu. Talvez tenha sido.
      
             O que constava como viamento (ou aviamento)? Na casa de farinha tinha a roda de sevá, os tipitis, as peneiras, os rodos, os cochos para trabalhar a massa, as gamelas, a prensa e o forno. Caso não houvesse a prensa, no terreiro ficava a arataca que cumpria a mesma função de secar a massa recorrendo a pesadas pedras na balança. Depois, da massa da mandioca, coisas deliciosas provinham das casas de farinha.

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