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Enquanto não chega um tempo propício para outras revelações da amiga Fátima, vamos apreciando um material já registrado pelo Luiz Moura, d' O Guaruçá.
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No tempo da colonização feita pelos portugueses, a região da Ponta
Grossa, aqui em Ubatuba, que nada mais é que uma belíssima península junto à
cidade, foi uma das regiões mais habitadas. Conta-se que até uma enorme
fazenda vinícola foi erguida naquele lugar. Segundo testemunhos orais, o
português Barroso era o proprietário desta fazenda. Até hoje seus descendentes
ainda vivem no bairro do Itaguá. Mas antes disso, conta-se que essa região
era um lugar quase inóspito. Era somente pedregulhos, um solo arenoso e seco,
onde somente os rústicos capins se atreviam a brotar. Pois foi este lugar que
o rico fazendeiro ofereceu a seu compadre pobre que um dia lhe bateu à porta,
pedindo não esmolas, mas um pedacinho de terra onde pudesse plantar para o
sustento de seus filhos.
Para
lá foi o esperançoso homem trabalhar, sonhando prover pelo menos alimentos
para seus dois filhos e esposa. A semana se passava. Era doloroso capinar sob
o sol quente a árida terra. Sentava-se para comer um naco de carne seca e
farinha junto à boca de uma gruta.
Um
dia, ao olhar desanimado para o eito que nada prometia, cismou por comer seu
jabá e não pensar coisas ruins, quando ouviu uma ressonância, um resfolegar,
um bafo quente e fétido. Adentrou a gruta devagarzinho, e deu de cara com um
monstro, um bicho que lhe fez ouriçar os cabelos, e faltar-lhe o ar. O bicho
então falou:
-
Hei, você aí, me coloca pra fora dessa gruta, preciso tomar sol.
O
homem meio desnorteado, mas com muito cuidado e medo, puxou o bicho para fora
da toca. Quando foi à tarde voltou para recolher o bicho.
O
tempo foi passando, e o homem já fazia aquilo pela grande amizade que fez com
o bicho. Pois esse monstro era o único que ouvia as suas agruras. Cansado de
ver o seu querido amigo sofrer, o bicho deu um horroroso rugido e abriu a
bocarra, pediu ao homem que metesse a mão dentro de sua boca retirasse o que
havia lá. Receoso, mas não tinha nada a perder mesmo, fez o que o bicho
mandou. Em sua goela estava um pote de ouro chapado.
A
vida do homem pobre mudou. Vendo a
mudança do compadre, o homem rico foi indagar a origem da fortuna. O homem
pobre lhe contou a respeito da gruta que ele denominou de Barroca, e o que se
venturou lá. Mais que depressa o homem rico foi ao local e sem dó nem piedade
arrastou o bicho para dentro, e arrastou o bicho para fora. Forçou a boca do
bicho, que numa só mordida arrancou-lhe o braço.
Dizem
que o jorro do sangue do homem rico corre até hoje lá em forma de uma bica de
água dentro da Barroca. A terra se fertilizou, até plantação de uva teve lá,
uvas eram cor de sangue.
Segundo
dona Miminha, que hoje habita ao lado do Senhor, aquelas terras um dia foram
terras prósperas, onde se cultivava uva para o fabrico do vinho. Tempo depois
um alambique foi instalado. Antes das terras dos Barrosos serem vendidas. O
início do bairro do Itaguá que conhecemos hoje, se deu com a maioria dos
moradores provindos de famílias da Ponta Grossa e adjacências que vieram
trabalhar na fazenda dos Barrosos.
Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
(FONTE: O GUARÛÇÀ)
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segunda-feira, 3 de setembro de 2012
O BICHO DA PONTA GROSSA
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