segunda-feira, 10 de setembro de 2012

MEMÓRIA


Galhetas e Lagoa: logo estas colunas, desprezadas pelo Turismo Cultural, estarão completando dois séculos.

                Ontem, num ritual de domingo à tarde, a amiga Fátima me telefonou dando notícias pouco animadoras a respeito da saúde do Eduardo Souza. Conforme ia falando, se recordava de tantos momentos e escritos desse escrevinhador caiçara.

                Após acertarmos alguns detalhes para uma visita ao enfermo, fui relembrar de um texto de autoria do historiador Norberto Luiz  Guarinello. O tema é Memória:

            Memória é a estrutura mais ampla e abrangente. É o próprio cimento da vida cotidiana. É, ao mesmo tempo, uma habilidade natural e uma construção  social, uma atividade, um trabalho que dá sentido ao trabalho morto que  compõe o palco da vida.
              A memória, individual ou coletiva, não é um repositório passivo, mas ativo, atuante, um imenso produto cultural. Memória é o vínculo, material ou ideal, entre passado e presente que permite manter as identidades a despeito do fluxo do tempo, que permite somar os dias de modo  significativo. É ela que dá sentido ao presente. É essencial tanto para indivíduos como para a sociedade ou para grupos dentro dela. Seu contrário, a  amnésia, tanto individual como social, corresponde à inação quase absoluta.
            Não existe ação que não seja calcada na memória. Mas memória não é apenas um recurso que possibilita a ação. É uma poderosa estrutura, um instrumento para o agir social e, portanto, uma fonte de poder.
            São várias as formas da memória social, em diferentes sociedades. A escrita e o processo educacional são formas de memória, assim como a tradição  erudita, livresca, a ciência, ou os relatos orais e as estórias que circulam entre grupos, os mitos, os heróis comuns e assim por diante.
            Memórias sãoproduto de trabalho, são fabricadas. Mas são também acúmulos de trabalho morto que condicionam o presente ou permitem agir sobre este de modo decisivo, conferindo sentido à ação e identidade aos agentes. A memória, sendo fonte de poder, é também, inevitavelmente, um campo de batalha onde se defrontam interpretações do passado e do presente pelo passado, onde se criam e destroem identidades, tradições, símbolos, crenças, sentidos da vida que podem inibir ou estimular ações, individuais ou coletivas.
            Depois fiquei pensando em um monte de coisas, em tantas pessoas... Olhando as fotografias recentes, me vi preocupado com um princípio ganancioso. A especulação imobiliáriajá deu demonstrações do que é capaz de fazer. As ruínas da Caçandoca, por exemplo, foram destruídas pelo  grupo que pretendia apagar qualquer sinal que comprovassem o histórico de seu território.

            Agora me pergunto:




            Por quanto tempo as ruínas das Galhetas, da Lagoa, dos Morcegos e outras serão mantidas, podendo se tornar instrumentos para o agir social, demarcando limites para que se respeite a natureza, sendo tais espaços garantidos como fontes de reabastecimento no enfrentamento do cotidiano ditado pela modernidade, pelo ritmo de sociedade industrial?

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