Galhetas e Lagoa: logo estas colunas, desprezadas pelo Turismo Cultural, estarão completando dois séculos. |
Ontem,
num ritual de domingo à tarde, a amiga Fátima me telefonou dando notícias pouco
animadoras a respeito da saúde do Eduardo Souza. Conforme ia falando, se
recordava de tantos momentos e escritos desse escrevinhador caiçara.
Após acertarmos alguns detalhes
para uma visita ao enfermo, fui relembrar de um texto de autoria do historiador Norberto Luiz Guarinello.
O tema é Memória:
“Memória é a estrutura mais ampla e
abrangente. É o próprio cimento da vida cotidiana. É, ao mesmo tempo,
uma habilidade natural e uma construção social, uma atividade, um trabalho
que dá sentido ao trabalho morto que compõe o palco da vida.
A memória,
individual ou coletiva, não é um repositório passivo, mas ativo, atuante, um
imenso produto cultural. Memória é o vínculo, material ou ideal, entre
passado e presente que permite manter as identidades a despeito do fluxo do
tempo, que permite somar os dias de modo significativo. É ela que dá sentido
ao presente. É essencial tanto para indivíduos como para a sociedade ou para grupos
dentro dela. Seu contrário, a amnésia, tanto individual como
social, corresponde à inação quase absoluta.
Não existe ação que não seja calcada
na memória. Mas memória não é apenas um recurso que possibilita a ação. É
uma poderosa estrutura, um instrumento para o agir social e, portanto, uma
fonte de poder.
São várias as formas da memória
social, em diferentes sociedades. A escrita e o processo educacional são formas
de memória, assim como a tradição erudita, livresca, a ciência, ou os
relatos orais e as estórias que circulam entre grupos, os mitos, os heróis
comuns e assim por diante.
Memórias sãoproduto de trabalho, são fabricadas.
Mas são também acúmulos de trabalho morto que condicionam o presente ou
permitem agir sobre este de modo decisivo, conferindo sentido à ação e
identidade aos agentes. A memória, sendo fonte de poder, é também,
inevitavelmente, um campo de batalha onde se defrontam interpretações do passado e do
presente pelo passado, onde se criam e destroem identidades, tradições,
símbolos, crenças, sentidos da vida que podem inibir
ou estimular ações, individuais ou coletivas.
Depois fiquei
pensando em um monte de coisas, em tantas pessoas... Olhando as fotografias
recentes, me vi preocupado com um princípio ganancioso. A especulação
imobiliáriajá deu demonstrações do que é capaz de fazer. As ruínas da
Caçandoca, por exemplo, foram destruídas pelo
grupo que pretendia apagar qualquer sinal que comprovassem o histórico
de seu território.
Agora me
pergunto:
Por quanto
tempo as ruínas das Galhetas, da Lagoa, dos Morcegos e outras serão mantidas,
podendo se tornar instrumentos para o agir social, demarcando limites para que
se respeite a natureza, sendo tais espaços garantidos como fontes de
reabastecimento no enfrentamento do cotidiano ditado pela modernidade, pelo ritmo
de sociedade industrial?
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