Uma orelha-de-burro, lembrança da vó Martinha e da Queimada (Sapê) |
A minha jabuticabeira |
Um maravilhoso ipê espremido no centro da cidade de Ubatuba (Rua Maranhão) |
Pense
em todas as maravilhas do mundo. Agradeça por elas terem passado os tempos e as
pessoas e nos alcançado na história, independente do lugar de onde viemos.
O
desafio de hoje é pensar em nós e nas futuras gerações. Sobretudo nelas! Terão
flores na profusão que temos? Terão os monumentos naturais e culturais que
tanto nos satisfazem? Terão vida em abundância?
O
que me preocupa são as transformações que desestruturam a vida humana e as
vidas interdependentes nos diversos ambientes do planeta. No caso dos moradores tradicionais de
Ubatuba, a partir da especulação imobiliária, ao perder a posse da terra e o
acesso ao mar, ao tentar apagar a memória caiçara, foi-se gerando algumas
situações que geraram as crises da atualidade. Junte-se a isso as migrações
desenraizadas fazendo de tudo para a sobrevivência e às necessidade
capitalistas, onde o ter supera o ser.
Hoje,
após visitar recentemente as ruínas desprezadas das Galhetas e da Lagoa, de me
preocupar em ter algumas áreas como reservas caiçaras visando a preservação às
futuras gerações, transcrevo um depoimento colhido pelo Domingos a respeito dos
últimos caiçaras da Caçandoca, quando até as ruínas da fazenda foram destruídas
pela Construtora Continental visando a construção de um condomínio de alto
padrão. Quem nos fala é Brás de Oliveira, filho do tio Roque:
“Foi em 1975 que aconteceu isso. A última
revolução mesmo! Os caras chegaram lá, colocaram a gente no caminhão de mudança
e foram expulsando o povo. Tinha que sair na hora e já começaram a largar fogo
nas casas. Inclusive quando a gente desceu lá do sertão [da Caçandoca] e passou
no Benedito Domingos, no Leocádio, aquelas casas já estavam todas queimando. Já
estavam andando... pra onde? Não tinha para onde a gente ir. Aí a gente veio para
o Perequê-mirim, pra casa do meu cunhado João da Mata. Ele já tinha saído fazia
um tempinho. Foi onde a gente se instalou. Foi ali. Sem dinheiro, sem nada,
ficamos na casa dele dois ou três anos, até a gente fazer um barraquinho.
Nessa altura a
máquina já tinha jogado o sobrado, já tinha jogado lá na Caçandoquinha, jogaram
aquelas coisas da escravidão tudo lá. Eu ainda vi isso aí, jogaram aquelas
lapadas de pedra. As paredes eram de uns oitenta centímetros de largura”.
Hoje, ao me
deslumbrar com alguns espetáculos no meu entorno, penso nos sofrimentos, nos
momentos angustiantes que são frutos da cobiça e da maldade de muitos. Se serve
de consolo... As tais situações continuarão, mas há também flores! Não deixe de percebê-las.
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