Descida do morro, avistando a Praia Dura (1973) |
Há
três dias (13/9), foi lançado o livro Ubatuba
– onde a lua nasce mais bonita, de Justo Arouca, um caiçara de
Caraguatatuba que conheceu Ubatuba em meados do século passado, por ocasião da
abertura da estrada que ligou por terra os dois municípios (Ubatuba –
Caraguatatuba).
Arouca
era funcionário do Departamento de Estrada de Rodagem. A partir do primeiro
contato com a nossa cidade, ficou apaixonado e fez questão de deixar suas boas
marcas por aqui. Atualmente mora em Taubaté. A sua obra nos brinda com detalhes
da empreitada da abertura da estrada, mas o mais importante são os aspectos da
sociedade ubatubana, da atuação dos jovens caiçaras e dos desafios enfrentados
com grande empolgação. Espero, após mais leitura, apresentar as pérolas
descritas pelo autor.
O
meu exemplar foi um presente do amigo Jorge Ivam. Como é bom ter amigos que
sabem das nossas paixões! Agradeço muito por isso.
Eis
um “aperitivo” para começar:
A luta mais sofrida da estrada foi vencer a
serra do Pinhão, entre a Praia Dura e o Lázaro. Daí até o bairro da Enseada
levou quase três anos de trabalho duro. Esse pedaço de tempo dá a exata
dimensão da abnegação dos rodoviários nessa jornada heroica. Em setembro de
1952 os serviços tinham apenas chegado no Rio Escuro. O empenho da equipe de
obras contando apenas com equipamentos rudimentares, basicamente sustentados
por carrocinhas puxados a burro, exigiam muito esforço braçal. Dois
compressores de ar comprimido para funcionar marteletes que furavam pedras e
dinamites para explodir rochas gigantes chegaram. Para derrubar e arrastar
grandes toras de árvores foi preciso braços fortes e um sonho extraordinário.
Enquanto isso o pessoal de obras-de-arte preparava a estrutura da ponte
provisória sobre o Rio Escuro, suficiente robusta para a travessia de um
pequeno trator de esteiras e outros veículos.
Ao
ler essa parte, me recordei de uma narrativa do tio Salvador, quando morava na
Fortaleza: dizia que, numa das explosões no trecho da estrada citado, ele e o
tio Genésio estavam no mangue retirando
madeira para a construção de paredes de pau-a-pique. Foi quando eu soube que, devido ao contato constante com a água, a
madeira do mangue era preferida na hora da construção da casa caiçara, do
envaretamento para o embarreamento. Acho até que já contei este detalhe: a
canoa preferida para o transporte de cargas tinha o nome de Cu grande. Era feia, de aproveitamento
de uma tora de ingazeiro, cuja proporção não permitia seguir a estética de uma
canoa normal. Ela pertencia ao tio Genésio. Por isso que, ao necessitar de uma
embarcação adequada para transportes de cargas, as pessoas da Praia da Fortaleza diziam:
-
Vamos na Cu grande do Genésio.
Enfim,
devemos agradecer ao Justo Arouca por mais uma descrição com objetivo de
conhecer mais a história de Ubatuba. Lógico! É justo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário