quarta-feira, 5 de setembro de 2012

AH! SE A MARIA VISSE!


Eis o tio João Nanico sempre bem acompanhado!

                Duas festas continuam – ainda! -  na tradição da praia Grande do Bonete, em Ubatuba: São Sebastião, comemorado em janeiro, e, Sant’Ana, cujas honrarias ocorrem em julho, logo depois do tempo da tainha. Nessas ocasiões as pessoas do lugar se mobilizam para apresentar o que têm  de melhor aos visitantes. Um exemplo é a famosa Consertada, um licor dos antigos.

                Hoje, muitos dos frequentadores dos festejos são turistas, devido ao tempo de férias. Porém, em outros tempos, um mundaréu de caiçaras vinha de todos os lugares, até de bairros e de ilhas relativamente longe dali.

                As comemorações aconteciam em dois momentos: o primeiro era a dimensão sagrada com momento de oração na capela, seguido de comes e bebes e um leilão beneficente; depois, a parte profana, consistia em danças (bate-pé, ciranda, baile...) que aconteciam na casa de alguém disposta a ceder com muita boa vontade um modesto espaço, onde os casais se expunham, tinham “contatos mais ousados” etc. Também era um espaço para apreciar os dons artísticos do povo caiçara através dos instrumentistas, músicos, declamadores, coreógrafos e outros.

                Um desses bailes, ainda na década de 1960, foi na casa do finado tio João da Vargem. Nem tinha passado uma hora, mas os casais estavam eufóricos, com os músicos no maior fôlego e suor. Festa boa! De repente alguém cisma de fazer uma brincadeira:  foi atrás da casa, onde ficavam os ninhos das galinhas, abaixou um dos balaios que servia de chocadeira e ali defecou apressadamente. Bosteou tudo! É lógico que imediatamente a galinha aprontou a maior barulheira. O dono da casa, munido de um flashlight (lanterna), ao deparar-se com o inusitado troço entre os ovos, ficou raivoso:

                -  O baile tá acabado. É muita bandalheira num divertimento que ia tão bem, com tanta gente comportada.

                E continuou o sermão:

                - Vocês me conhecem bem. Sabem que eu não sou de xingar  ninguém. A sorte de vocês é que a minha mulher, a Maria, tá dormindo. Tivesse ela acordada que  vocês escutariam coisas medonhas. Ela é parente do Mané Bento! Com ela não tem esse negócio de pensar muito e de se conter para não destratar ninguém. É  isto que eu digo: se ela tivesse acordada, metia a boca que acabava!

                Por fim, encerrando a falação:

                - Agora vão embora. É sorte de vocês que a Maria tá dormindo!

                Quem me contou este fato, rindo muito, foi o saudoso tio João Nanico.

                Ah! Se a tia Maria visse aquilo!

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