Vovô Estevan e Guinho. Detalhe: segurando um copo de café. |
Todos
os caiçaras da minha geração, que moravam fora da realidade dos lotes do centro
da cidade, conviveram com alguns pés de café em volta da casa. Eles garantiam a
prazerosa bebida do dia a dia.
Lembro-me
bem de ajudar a vó Eugênia a recolher as frutas vermelhinhas nos galhos, sempre
escutando a advertência de “cuidado com cobras” e “não desperdice caroço pelo
chão”. Depois ia para a secagem no terreiro, tendo o trabalho de recolher em
balaios no fim do dia (para não correr o risco de pegar chuva durante a noite).
Dessa faina resultava em grãos secos para ir torrando aos poucos, conforme o
uso.
Todo
o preparo final era na cozinha mesmo: primeiro era pilado, depois peneirado e
seguia para ser torrado em panela de barro. O cheiro tomava conta dos espaços.
Finalmente, após prender um moinho de ferro na borda da grande mesa, acontecia
a moagem. Estava pronto o nosso sagrado café.
Assim
como o vinho que, a partir da Grécia, é uma bebida associada à cultura, à arte
da conversação e ao diletantismo, o café caiçara tem papel semelhante. Recusar
um café é recusar uma boa prosa.
Uma
conversa regada a café torna os participantes como partes de uma mesma família.
Daí a recomendação do Nhonhô Almiro: “Não se convida qualquer um para o café”.
Uma
prosa e um café são inseparáveis. Ao escutar a frase “aparece lá em casa para
um café”, pode ter uma certeza: existe o desejo de um encontro demorado para
uma agradável prosa que vai cimentando amizades. Não se trata de apenas um café.
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