sexta-feira, 28 de setembro de 2012

NÃO SE TRATA DE APENAS UM CAFÉ


Vovô Estevan e Guinho. Detalhe: segurando um copo de café.
                Todos os caiçaras da minha geração, que moravam fora da realidade dos lotes do centro da cidade, conviveram com alguns pés de café em volta da casa. Eles garantiam a prazerosa bebida do dia a dia.
                Lembro-me bem de ajudar a vó Eugênia a recolher as frutas vermelhinhas nos galhos, sempre escutando a advertência de “cuidado com cobras” e “não desperdice caroço pelo chão”. Depois ia para a secagem no terreiro, tendo o trabalho de recolher em balaios no fim do dia (para não correr o risco de pegar chuva durante a noite). Dessa faina resultava em grãos secos para ir torrando aos poucos, conforme o uso.

                Todo o preparo final era na cozinha mesmo: primeiro era pilado, depois peneirado e seguia para ser torrado em panela de barro. O cheiro tomava conta dos espaços. Finalmente, após prender um moinho de ferro na borda da grande mesa, acontecia a moagem. Estava pronto o nosso sagrado café.

                Assim como o vinho que, a partir da Grécia, é uma bebida associada à cultura, à arte da conversação e ao diletantismo, o café caiçara tem papel semelhante. Recusar um café é recusar uma boa prosa.

                Uma conversa regada a café torna os participantes como partes de uma mesma família. Daí a recomendação do Nhonhô Almiro: “Não se convida qualquer um para o café”.

                Uma prosa e um café são inseparáveis. Ao escutar a frase “aparece lá em casa para um café”, pode ter uma certeza: existe o desejo de um encontro demorado para uma agradável prosa que vai cimentando amizades. Não se trata de apenas um café.

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