Viva os nossos causos! Saúde aos nossos caiçarinhas! |
De vez em quando alguém me questiona sobre os causos de pescadores, caçadores e outros. Eu discorro sobre alguns aspectos, faço a pessoa rir, mas, no final, não sei se ela entendeu muito bem o que eu quis lhe dizer. O que deve prevalecer como objetivo de toda narrativa é uma reflexão significativa, capaz de reorientar o viver. Explicarei melhor:
Importante
mesmo, diante de um causo, de uma história fantástica, de um mito, não é
lhe dar crédito, mas sim não ter dúvidas
sobre seu significado. Por isso, quem faz de tudo para transformar personagens
desses gêneros em algo verossímil, está produzindo um tipo de sabedoria no
mínimo inadequada. Conforme disse Sócrates há muito tempo, na Antiga Grécia: “Eu não tenho tempo para dedicar-me a tais ócios”.
Ainda
no mesmo desafio de produzir um conhecimento que eleve o ser humano – e a
humanidade! - continua o pensador grego: “Por isso deixo tais coisas onde
estão, e não penso nelas, senão em mim mesmo, quando medito se sou uma criatura
de constituição mais complicada e monstruosa que a de Tífon [filho do Tártaro e
da Terra que se insurgiu contra Júpiter. Depois de vencido, foi enterrado sob o
monte Etna], ou se, quem sabe, sou um ser de natureza mais suave e simples,
dotado de alguma essência nobre e ainda divina” (Ver Fedro, Platão).
Eu
acredito que as duas dimensões (monstruosa e nobre) estão igualmente em
potência no nosso ser. A sabedoria é quem dará um encaminhamento para as suas
manifestações/realizações. Um exemplo caseiro: a minha esposa, percebendo as
crianças trocando farpas em várias ocasiões, dá-lhes uma bronca e discorre
acerca do ódio gratuito, demonstrando, através de notícias do cotidiano, no que
ele (ódio) pode desembocar. Mas eu sei também de pais que estimulam a violência
desde os primeiros anos de seus filhos! Certamente que os frutos serão
colhidos. A recompensa pode ser os Campos
Elíseos ou o Tártaro. Nisto a
titia Maria da Barra sapecaria um Cruz-credo!
Finalizando:
a cultura, desde os nossos causos locais até a avançada tese científica que
está sendo produzida neste momento, é um modo de produção criativo da
consciência que, desejo eu, deve nos conduzir a uma essência nobre.
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