quarta-feira, 25 de julho de 2012

“NÃO XINGA A MAMÃE...”


Vovó Martinha, a parteira.
Mamãe está feliz entre o Wagner e o tio Marcelino.


                    O meu tio Chico Félix, um destemido homem do mar, depois que achou uma garrafa  encalhada na praia e tomou o seu líquido, achando-o delicioso, nunca mais se endireitou. Ou melhor: tornou-se um viciado em bebidas alcoólicas para o resto da vida. Ele era um homem de bom coração; a gente gostava dele apesar de tantas extravagâncias. Além do mais, um especialista em causos: adorava contar de momentos vividos e de mistérios que pareciam desafiá-lo.
                Quando o tio Chico estava sóbrio, era um homem de pouquíssimas palavras. Nessas ocasiões estava totalmente envolvido com o mar, enfrentando os desafios em cima de uma canoa. Confesso que ainda não vi alguém desafiar o mar, sob qualquer condição, tal como o titio. No entanto, embriagado ele virava um “xarope”, infernizava qualquer um, inclusive a sua mãe (vovó Martinha). Fazia uma catação de orquídeas e samambaias pelos quintais e trocava pela “mardita branquinha”.
                Num final de tarde, começou do nada um bate-boca com a vovó. Éramos os três em casa. Eu estava controlando a situação até certo ponto. De repente fiquei desesperado pelo rumo das afrontas. Ele partiu para os xingamentos. E dos pesados! Foi quando chegou outro tio: o Neco, o penúltimo dos oito filhos (só homens!).  Então respirei aliviado. Expliquei-lhe rapidamente o desenrolar. Novamente uma série de xingamentos veio aos borbotões, parecendo cano d’água quando se rompe.
                O tio Neco não conseguiu se conter. Partiu para cima do irmão, também apelando com muita exaltação: “Não xinga a mamãe, seu filho da puta”. E soltou mais um monte de palavreados acompanhado de uns tabefes. Coitada da vovó.
                Na hora eu me contive, mas logo veio o inevitável ataque de risos.
                Depois de tanto tempo do ocorrido, me recordo de como a mamãe gostava dessa história. Ela ria gostosamente quando, estando a irmandade reunida, alguém repetia o “não xinga a mamãe, seu filho da puta”. Quem diria que isto iria se tornar um código de família?

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