Vovó Martinha, a parteira. |
Mamãe está feliz entre o Wagner e o tio Marcelino. |
O
meu tio Chico Félix, um destemido homem do mar, depois que achou uma garrafa encalhada na praia e tomou o seu líquido,
achando-o delicioso, nunca mais se endireitou. Ou melhor: tornou-se um viciado em
bebidas alcoólicas para o resto da vida. Ele era um homem de bom coração; a
gente gostava dele apesar de tantas extravagâncias. Além do mais, um especialista
em causos: adorava contar de momentos vividos e de mistérios que pareciam
desafiá-lo.
Quando
o tio Chico estava sóbrio, era um homem de pouquíssimas palavras. Nessas
ocasiões estava totalmente envolvido com o mar, enfrentando os desafios em cima
de uma canoa. Confesso que ainda não vi alguém desafiar o mar, sob qualquer
condição, tal como o titio. No entanto, embriagado ele virava um “xarope”,
infernizava qualquer um, inclusive a sua mãe (vovó Martinha). Fazia uma catação
de orquídeas e samambaias pelos quintais e trocava pela “mardita branquinha”.
Num
final de tarde, começou do nada um bate-boca com a vovó. Éramos os três em
casa. Eu estava controlando a situação até certo ponto. De repente fiquei
desesperado pelo rumo das afrontas. Ele partiu para os xingamentos. E dos
pesados! Foi quando chegou outro tio: o Neco, o penúltimo dos oito filhos (só
homens!). Então respirei aliviado.
Expliquei-lhe rapidamente o desenrolar. Novamente uma série de xingamentos veio
aos borbotões, parecendo cano d’água quando se rompe.
O
tio Neco não conseguiu se conter. Partiu para cima do irmão, também apelando
com muita exaltação: “Não xinga a mamãe, seu filho da puta”. E soltou mais um
monte de palavreados acompanhado de uns tabefes. Coitada da vovó.
Na
hora eu me contive, mas logo veio o inevitável ataque de risos.
Depois
de tanto tempo do ocorrido, me recordo de como a mamãe gostava dessa história.
Ela ria gostosamente quando, estando a irmandade reunida, alguém repetia o “não
xinga a mamãe, seu filho da puta”. Quem diria que isto iria se tornar um código
de família?
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