quinta-feira, 26 de julho de 2012

MAIS UM ASTRO


(Imagem do livro Os caiçaras contam)


                Ontem, à 15:00 horas, sepultamos a tia Astrogilda, caiçara da praia do Pulso.

                “Ali, onde hoje é a casa do Bernadino do Prado, antigamente era a casa do tio Anastácio, o pai da tia Astrogilda”. Assim me mostrou recentemente o papai, explicando como era aquela praia e os seus moradores no começo do século XX. E continuou: “Depois de casada com Silvário, filho do Estevan Marcolino, a titia foi para Santos. Era assim naquele tempo: muita gente buscava melhores condições e trabalho em Santos”.

                Atualmente, depois de passar alguns anos morando na Enseada, há mais de duas décadas que o simpático casal se fixou no bairro Morro das Moças, na rua que foi batizada com este nome diferente: Astrogilda da Conceição. Além dos depoimentos de ambos, recolhidos pelo Domingos, também é possível apreciá-los no livro Os caiçaras contam, publicado no ano 2000.

                Dela guardarei muitas recordações. Uma expressão interessante: quando queria fazer a gente pensar um pouco mais, lançava a seguinte frase: “No fim deste dia, você pense no que fez e nas pessoas que encontrou. Veja se não  carece tentar arrematar um dia mal alinhavado”. Foi com este pensamento que eu desci o morro do cemitério do Ipiranguinha na tarde garoenta de ontem.

                Recorrendo às crenças primitivas, eu prefiro olhar o céu estrelado a partir da praia do Pulso, imaginar mais uma estrela luminosa e dizer aos meus filhos que a tia Astrogilda virou astro, se compôs na estética e na poesia do Universo. Enfim, será mais uma pessoa que permanecerá viva nas nossas lembranças como um modelo de simplicidade de vida caiçara.

                Ao tio Silvário, aos primos e primas só desejamos firmeza para continuar sem o apoio desta mulher, deste esteio essencial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário