(Imagem do livro Os caiçaras contam) |
Ontem,
à 15:00 horas, sepultamos a tia Astrogilda, caiçara da praia do Pulso.
“Ali,
onde hoje é a casa do Bernadino do Prado, antigamente era a casa do tio
Anastácio, o pai da tia Astrogilda”. Assim me mostrou recentemente o papai,
explicando como era aquela praia e os seus moradores no começo do século XX. E
continuou: “Depois de casada com Silvário, filho do Estevan Marcolino, a titia foi
para Santos. Era assim naquele tempo: muita gente buscava melhores condições e
trabalho em Santos”.
Atualmente,
depois de passar alguns anos morando na Enseada, há mais de duas décadas que o simpático
casal se fixou no bairro Morro das Moças, na rua que foi batizada com este nome
diferente: Astrogilda da Conceição. Além dos depoimentos de ambos, recolhidos
pelo Domingos, também é possível apreciá-los no livro Os caiçaras contam, publicado no ano 2000.
Dela
guardarei muitas recordações. Uma expressão interessante: quando queria fazer a
gente pensar um pouco mais, lançava a seguinte frase: “No fim deste dia, você pense
no que fez e nas pessoas que encontrou. Veja se não carece tentar arrematar um dia mal alinhavado”.
Foi com este pensamento que eu desci o morro do cemitério do Ipiranguinha na
tarde garoenta de ontem.
Recorrendo
às crenças primitivas, eu prefiro olhar o céu estrelado a partir da praia do
Pulso, imaginar mais uma estrela luminosa e dizer aos meus filhos que a tia
Astrogilda virou astro, se compôs na estética e na poesia do Universo. Enfim,
será mais uma pessoa que permanecerá viva nas nossas lembranças como um modelo
de simplicidade de vida caiçara.
Ao
tio Silvário, aos primos e primas só desejamos firmeza para continuar sem o
apoio desta mulher, deste esteio essencial.
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