Banana: um dos nossos principais produtos de subsistência. |
Para
quem quer entender: o território da antiga fazenda Caçandoca, após a ruína em
meados do século XIX, onde os filhos de Antunes de Sá resolveram ficar por
aqui, significando que não quiseram acompanhar o deslocamento da cultura
cafeeira para outras regiões, tornou-se terra coletivizada, de todas as
famílias produzindo basicamente para a sua sobrevivência. Os antigos escravos e
agregados tornaram-se posseiros e ali viveram sem nenhuma perturbação até
meados do século XX, quando começou a especulação imobiliária no litoral norte
paulista.
É
desse pessoal todo que, através do Aristeu e de Leovigildo, meu pai, vou dando
a conhecer e justificando porque todo aquele espaço, desde a divisa com o
município de Caraguatatuba até a barra da Maranduba, deveria ser tombado não como quilombo, mas sim como
reserva caiçara, onde os moradores teriam um discurso mais coerente,
reafirmando um contexto verdadeiramente abrangente, na lógica comunitária
surgida da falência monopolista cafeeira.
Então...
continuando a narrativa do meu pai:
“Alzira
casou com Sudário. Enedina foi mulher do Bito Domingos. Eram irmãs, por parte
de pai, do seu avô Estevan.
Onde
era a ruína da fazenda morava o Sebastião Eduardo, que tinha o pé inchado de
bicho. A ruína era um grande paredão, na beira do caminho que descia para a praia.
Era onde tinha uma touceira de bambu.
O
tio Abel, filho da Maria Félix, morava na praia, perto do tio Félix, que era
irmão da Maria. A casa dele era um armazém. Recentemente funcionou como escola;
está lá até hoje. Perto dessa casa, no rio, se juntavam as mulheres para consertar (limpar) peixe. O João
Glorioso, do Saco da Ribeira, era quem levava sardinha e outros peixes para o
tio Félix. Todo peixe era secado e mandado para Santos. Os barcos (Santense,
São Manoel, Atlas, São Paulo e outros) passavam semanalmente embarcando
mercadorias, desembarcando outras.
Mais
tarde, o João Giraud, que tinha um armazém na barra da Maranduba, onde depois
foi o Hotel Picaré, abriu um outro ponto comercial na Caçandoca.
Tia
Floripes,irmã do Celestino, do Jerônimo e da Ana (casada com Sebastião Cabral),
tinha o nome de Floripes da Mata, filha de João da Mata. Ela matou o tio Félix
com soda cáustica. Era a mulher dele; não tiveram nenhum filho. Meu pai {vô
Estevan] foi até as Palmeiras, na Serra Acima, buscar remédio no curandeiro.
Ele disse assim: ‘O senhor chegou tarde porque o seu amigo está à morte, o
intestino está cortado’. Era a soda que ela deu para ele. Depois ela casou com
o Olavo Lopes, da praia Grande do Bonete. Era o caixeiro do tio Félix. Logo ela
morreu em trabalho de parto. Então, ele e Altair se casaram. Vivem juntos até
hoje.
Tio
Félix era um homem alto, muito querido de todos”.
Observação: as ruínas da Fazenda Caçandoca foram postas no chão em princípio da década de 1980, quando uma empresa quis apagar os vestígios históricos da área e fazer um condomínio, nos moldes da praia do Pulso. Até suspeita de envenenamento de crianças caiçaras foi levantada pelo médico municipal da época, o doutor Arthur de Luca.
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