Maria e Estevan: esperança de novo mares de paz (Arquivo JRS) |
Para celebrar com esse amigo que teve origem na Bahia, devo recorrer a outro de igual talento e humanidade: Santiago Bernardes, que também veio de outras terras, mas escreve a partir da vivência no Camburi. Assim "as ilhas se aproximam"!
Ser Silvestre, do Jorge, e, Gente de chão e de mar, do Santiago, se cruzam em meus pensamentos. Me sinto agora, olhando o tempo lá fora, como se estivéssemos juntos tomando um café e proseando. Que o próximo ano seja melhor a estes e tantas outras tantas pessoas da parceria, de empenho pelos mares de paz!
Terra é solo de solidão. Nesses sombrios tempos de sofreguidão do chão. Tapam as raízes com concreto. Rasgam a floresta com asfalto. E dizem não. Não ao plantio da cultura. Não à tradição. O solo suporta o peso da humanidade crescente. Esmaga-se sob condomínios, prédios, cidades, mas esmaga-se mais sob a incompreensão. O manguezal sufocado respira ainda. Raízes enroscadas em plásticos. As praias espremidas entre os prédios e o Atlântico vão-se se tornando finas faixas de areias abafadas. Entre a massa de gente que a pisa e o jundu que vai deixando de existir. Os guaiamuns buscam suas tocas e não encontram, tampadas por cimento. Os rios estão murados em sua saída para o mar e já não podem mover-se. A terra tenta mover-se em seus ciclos de milhões de anos. Uma pequena espécie tenta contê-la. Com maquinas, construções, engenharias. Mudar os caminhos de seus rios e o chão de suas florestas. Mas não consegue. As águas e a terra prevalecem sobre suas invenções.
Cresci, fui morar numa pequena cidade,
Depois mudei-me para uma metrópole.
Frequentei colégio e faculdade
Entre gente branca e esnobe,
No meio da qual, eu era ave rara.
Enfim, fiz tudo para cumprir o destino
Que meu padrinho preconizara,
Mas, ai, falhei! Não tive tino.
Na urbe, vivo arredio , acocorado
Como um bugre recém-capturado.
Ao sol-posto, vejo com alarme
Que nem o título de mestre,
Serviu para civilizar-me;
Continuo inculto, silvestre.
Vai-se um ano de tantas vidas desperdiçadas. Convictos na vida-luta que segue, tenhamos um protagonismo pela VIDA. É ela que está escrevendo uma HISTÓRIA.
Boas festas, minha gente! Parabéns, Jorge!
Bom ano irmão! Que nosso povo caiçara seja sempre forte na resistência da cultura!
ResponderExcluirQue as ilhas continuem se aproximando, irmão.
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