Imagens de meados do século XX (Arquivo Ubatuba Antiga) |
No final do século XIX, Ubatuba, no Litoral Norte, estava começando a sua linha ferroviária
que ligaria a Taubaté, no Vale do Paraíba. Uma comitiva, de aproximadamente cinquenta
pessoas ilustres, veio da capital do país (Rio de Janeiro) especialmente para o batimento da estaca, no local denominada Indaiá, onde seria a estação da cidade (é atualmente o cruzamento das ruas Cunhambebe e D. João III) que
marcaria o início dos trabalhos, com ampla cobertura jornalística. Assim
sabemos mais da sociedade ubatubense naquele tempo.
Correio
do Povo de 1 de outubro de 1890:
Ao
chegar à praça Quinze de Novembro, fomos recebidos entre alas e debaixo de uma
chuva de flores por moças das principaes famílias da cidade. Dahi nos dirigimos
para a casa do sr. Coronel Gonçalves Pereira, presidente da Intendência, onde
nos hospedámos e onde recebemos desse cavalheiro e de toda a sua família o
melhor, o mais delicado e o mais generoso acolhimento possível.
(...)
Depois de almoçar, sahimos a percorrer a cidade e visitamos a matriz, a casa da
Intendência, o Atheneu Ubatubense e a estação do telegrapho. O Atheneu, onde á
noite se realizou uma agradável sessão litteraria, é presidida pelo coronel
Gonçalves Pereira e tem como seu diretor de aulas o sr. Dr. Esteves da Silva,
que já o presidiu durante cerca de dez anos.
É
uma associação modelo, o Atheneu Ubatubense. Mantem uma escola nocturna para
ambos os sexos, tem uma biblioteca de, aproximadamente, seis mil volumes, e
possui um pequeno museu de produtos nacionais. O professorado é gratuito. A
escola não recebe nenhum auxilio do governo e é mantida por donativos para esse
fim especialmente recebidos. O Atheneu foi fundado em 1875, e funciona em casa
de sua propriedade.
A
matriz, de construção muito antiga, é espaçosa e de agradável aspecto.
A
intendência dispõe de magnifico prédio. Na repartição do telegrapho, onde nos
demoramos, fomos recebidos pelo telegrafista, sr. Adelino Soares Pinto, que
merece elogios pela maneira por que é feito o serviço a seu cargo.
Depois
de sahir, fomos fotografados em grupo pelo distincto amador sr. Keay.
De
volta a casa do coronel Gonçalves Pereira, houve quem se lembrasse de organizar
uma pequena matinée dançante. E dançou-se por algum tempo.
A’s
4 horas da tarde, seguimos, precedidos da banda de musica e acompanhados das
autoridades e de quase todo povo de Ubatuba, para o ponto em que se ia bater a
primeira estaca da estrada de ferro do Norte de S. Paulo.
Nota: a estrada de ferro teve início, mas parou logo no começo, pois o governo federal de Floriano Peixoto suspendera a garantia de juros sobre o valor do material importado, veio a falência do Banco de Taubaté e da companhia construtora. Segundo o seo Filhinho, "ao longo de trechos já construídos, no meio da mata, no sopé da serra, nos grotões, por toda parte, encontravam-se montões de trilhos que por lá ficaram abandonados, a mercê de quem se dispusesse enfrentar as dificuldades do transporte e lá fosse buscar um, dois, ou quantos precisasse para uma obra ou uma aplicação qualquer".
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