quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

SERÁ MESMO?

Folia chegando (Arquivo Folclore Paulista)


         Vá só lá vê! O má tá arruinado, um banzêro só! Não escutasse o rugido a noite toda? Já tem quinzena, né? Na  boca  da  barra  até  derrubô barrancêra. O Lizeu, que andava de combinação para batê tremembó, tá até desacorçoado. É logo que vai se embebedá na venda de Migué. Ainda mais agora que tá de parceria com o Rocão e o Dito! Vive na pôca vergonha com os dois. Enquanto isso, melhó é continua a nossa prosa. É o que podemo fazê agora.

Dia desse o professô  Rogé especulô a respeito de batê tremembó. Expriquei a ele que é otro jeito de dizê pescaria de tróia, de batê costera. O pexe, no susto das poita batendo, dos’trondo n’água, vai direto no pano da rede. Adespois é só fechá a rede e recolhê a pescaria.

Meu finado avô Lodônio, home brabo, capora, quase bicho do mato, falava de um antigo caiçara que benzia banzêro, capais de dexá má carminho. Quis sabê a respeito disso. Fui buscá informação com o Mané Mariano, do Canto da Paciênça. Ele, benzedô dos bão, não aprendeu desse benzimento. “Co’a minha saudosa mãezinha, que veio da minha finada vó, eu me criei venzendo cobrero, izipra, quebrante... De um tempo pra cá, uma gentalhada tem trazido criança pra sê venzida de bicha. Todo mundo tá empalamado, barrigudinho que nem garu da vala. Eu venzo e adespois recomendo uns mato para beberage. Se não vortar mais é porque arcançô resurtado”.

Em dia assim, não se podendo saí no má, vô no eito da badeja. O compadre Tié, o Tunico e mais a criançada darão um ajutório para prantar bico de ouro, daquele feijão bem roxinho. É só forrá os peito com café, biju e paçoca de bilusca e assubi pelo caminho.

Treisantonte, ali na cachoêra, mostrei pro Sarvadô o que é bilusca, aquele camarãozinho de cor de prata. É crença dos antigo que comê paçoca dele dá força nos home e cansaço nas mulhé.  Quem come fica aceso. Pelo jeito, o Maneco Armiro faz uma frigidera de bilusca toda somana. Pelo sim e pelo não, não dexo de comê a minha porção. Quem prepara de veiz em quando é a mulhé. Ela nota quando eu tô carecendo de um reforço, né? Tenho levado coça dela direto. É quase toda noite. Ai que gostosura!

E já que não se pode pescá, assim que escurecê devo bisitá o mundé no bananá, na grota do Dário. Por falá nisso, visse que na cidade, perto daquele lugá onde dexaro um caminhão apodrecê no mato, fizêro uma loja de rôpa com nome de Cumbu [Kumbu]. O dono é o seo Nerso, gente de fora, de Lorena.  A mulhé passô lá e comprô umas ropinha pras criança e uma peça de pano pra vestido. Na parede dela tá pintado assim: “A loja do rico onde o pobre também compra”. Nôtra casião vô lá só vê se é verdade isso. Será mesmo?

2 comentários:

  1. Ahhhhhhhhhhhhhhh rapaz, tô adorando tudo o que leio, tenho aprendido muito, um grande abraço de Paraty!

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  2. Grande abraço de Ubatuba, irmão! Que bom que mais gente está gostando das nossas prosas!

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