Dia desse o professô Rogé especulô a respeito de batê tremembó. Expriquei a ele que é otro jeito de dizê
pescaria de tróia, de batê costera. O pexe, no susto das poita batendo, dos’trondo
n’água, vai direto no pano da rede. Adespois é só fechá a rede e recolhê a
pescaria.
Meu finado avô
Lodônio, home brabo, capora, quase bicho do mato, falava de um antigo caiçara que benzia banzêro, capais de dexá má carminho. Quis sabê a respeito disso. Fui buscá informação com o Mané Mariano, do Canto da
Paciênça. Ele, benzedô dos bão, não aprendeu desse benzimento. “Co’a minha saudosa mãezinha, que veio da
minha finada vó, eu me criei venzendo cobrero, izipra, quebrante... De um tempo
pra cá, uma gentalhada tem trazido criança pra sê venzida de bicha. Todo mundo
tá empalamado, barrigudinho que nem garu da vala. Eu venzo e adespois recomendo
uns mato para beberage. Se não vortar mais é porque arcançô resurtado”.
Em dia assim,
não se podendo saí no má, vô no eito da badeja. O compadre Tié, o Tunico e mais a criançada darão um ajutório para prantar bico de ouro, daquele feijão bem roxinho. É só forrá os
peito com café, biju e paçoca de bilusca e assubi pelo caminho.
Treisantonte, ali
na cachoêra, mostrei pro Sarvadô o que é bilusca, aquele camarãozinho de cor de
prata. É crença dos antigo que comê paçoca dele dá força nos home e cansaço nas
mulhé. Quem come fica aceso. Pelo jeito,
o Maneco Armiro faz uma frigidera de bilusca toda somana. Pelo sim e pelo não, não dexo de comê a minha porção. Quem prepara de veiz em quando é a mulhé.
Ela nota quando eu tô carecendo de um reforço, né? Tenho levado coça dela direto. É quase toda noite. Ai que gostosura!
E já que não
se pode pescá, assim que escurecê devo bisitá o mundé no bananá, na grota do
Dário. Por falá nisso, visse que na cidade, perto daquele lugá onde dexaro um
caminhão apodrecê no mato, fizêro uma loja de rôpa com nome de Cumbu [Kumbu]. O dono é o seo Nerso,
gente de fora, de Lorena. A mulhé passô
lá e comprô umas ropinha pras criança e uma peça de pano pra vestido. Na parede
dela tá pintado assim: “A loja do rico onde o pobre também compra”. Nôtra
casião vô lá só vê se é verdade isso. Será mesmo?
Ahhhhhhhhhhhhhhh rapaz, tô adorando tudo o que leio, tenho aprendido muito, um grande abraço de Paraty!
ResponderExcluirGrande abraço de Ubatuba, irmão! Que bom que mais gente está gostando das nossas prosas!
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