Um desenho largado no chão (Arquivo JRS) |
Um poeta (Manuel Bandeira) escreveu um poema bem atual, apesar de ser do ano de 1947. Como pode ser negada a dignidade, o direito de ser homem?
O BICHO
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Um bicho que parecia um homem... Um homem que parecia um bicho. Como pode parecer algo que tem o direito de ser? Que ordem social é essa? Que abismo é esse entre homens?
Feliz a pessoa que nunca, por nossas cidades, viu cena semelhante (de gente vivendo dos restos dos outros! Triste ver aumentar esse quadro de estar sobrando para uns e faltando para muitos.
A fome não escolhe comida. Um dizer antigo afirma que "o melhor tempero é a fome". Comer é necessidade básica. O mundo tem alimentos para todos! Por que falta para tanta gente? Por que homens disputam com animais restos largados pelas lixeiras e logradouros?
Alguma coisa está muito errada. Esses mendigos são também denunciadores de injustiças. Profetizam, do jeito deles, uma sociedade apodrecida. Em tempo de festas e de lixeiras repletas de sobras de alimentos, reflitamos nessa direção. Sob governantes que privilegiam o lucro de poucos e nada fazem pelos pobres, tomemos outro caminho que não seja o da acomodação.
O homem tem o direito de ser homem. Não pode apenas parecer ser homem.
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