Muriqui do Jarbas (Arquivo JRS) |
Quando eu era mocinha, morávamos no bairro do Sumidouro. Meu pai e meus irmãos eram caçadores. Um dia, de tardezinha, ouvimos uns assovios. Aí meu pai falou: "tem macaco aí". Meu irmão pegou a espingarda e deu um tiro certeiro. O tiro atingiu uma fêmea que carregava seu filhote nas costas. Ela pegou seu bebê e mostrou para ele. Ficamos tristes, mas era preciso cuidar dele.
Dei a ele o nome de Tedi e, com uma velha chuquinha, criei-o. Ele cresceu e ficou muito safado: roubava pão, a mamadeiras das crianças e fazia a maior bagunça na panela de arroz. Não podia ver uma mulher que fazia gestos de safadeza e se coçava. Minha mãe não gostava, ele tinha vergonha porque éramos muito meninas. Um dia ele me disse: "é melhor vendê-lo". Tendo crescido em casa, ele não sobreviveria na mata. E assim foi feito.
(Autora: I.V.L.S)
Para reflexão:
Houve um tempo em que muitos caiçaras caçavam. Uns diziam que era para variar a dieta, outros porque havia necessidade mesmo. No fundo, apesar das necessidades, digo que era o instinto de perseguir, de matar que existe em nós humanos. Hoje tem gente entrando no mato para caçar com finalidades criminosas. A maioria não é caiçara. Uma pessoa me contou no ano passado: "Aqui em Ubatuba tem gente de posses que encomenda determinado tipo de caça e paga muito dinheiro por ela. A paca é das mais caras, mas o quati, na crença que aumenta no homem a potência sexual, também passa maus bocados. O caçador, com o animal abatido, faz um telefonema e a pessoa vai na casa dele com seu carrão pagar e levar a mercadoria".
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