Mestre Sabá (Arquivo Mariana) |
Escutei bem, guardei suas falas:
"No caminho daqui encontrei o Otacílio, o branco. O preto, agora de namoração com a Ló do Chico Simão, quase nem se vê. É amor mesmo! Que dure todo o tempo que tem de durar é o que lhes desejo. Mas voltando ao início, o branco me fez parar o carrinho de mão, com essa miuçalha de peixe que ainda está ai, só para me perguntar: 'Nós somos ou nós seremos, Sabá?'. Pensei pouco, pois com ele não se pode parar muito tempo, nem gastar muita paciência. A minha resposta foi que somos isto agora, mas seremos outra coisa depois. Me saí bem, Zezinho?"
Após eu ter balançado a cabeça afirmativamente, Sabá continuou:
"Foi isto que ele complementou: 'Você respondeu bem, Sabá. É a confirmação que tudo está sempre se transformando. Por isso, depois que foi pescado, que deixou o mar, esses peixes aí no seu carrinho não são mais frescos, concorda? Então, por que você continua anunciando como peixe fresco?'. Sabe que eu não tive como discordar dele, Zezinho? Mas... pensando nessa direção... o que pode ser dito, então? Não pode ser dito, né?".
Na hora, querendo provocar uma reação, emendei na fala:
- Mas lógico que pode ser dito, Sabá! Quem disse que não pode? Pode ser Dito da Jacinta, pode ser Dito Henrique... Pode ser Dito Barreto, pode ser Dito Graça... Pode ser Dito Preto, pode ser Dito Funhanhado...
Aí veio o melhor: aquela gargalhada gostosa do Mestre Sabá. "Você não tem jeito, menino. Não nega mesmo que é filho do Carpinteiro!".
Nenhum comentário:
Postar um comentário