Maré de cisco no Perequê-mirim (Arquivo JRS) |
Isso de marcar o tempo é coisa antiga, dos povos antigos. Precisavam prestar atenção nas estrelas e no Sol, nas fases da Lua, nos comportamentos dos bichos, na brotação das plantas e em tantos outros fenômenos para terem mais sucesso nos desafios, nos empreendimentos e poderem festejar. Assim nasceram os calendários. Depois das chuvaradas, as cheias dos grandes rios traziam nutrientes à terra, cisco de montão, permitiam a agricultura e o surgimento das cidades com suas organizações. Pelas águas (mares e rios) se estabeleciam relações, vieram os contatos com povos diferentes, de saberes distintos e outros costumes.
Na cultura caiçara, em Ubatuba e região, a praia era o lugar onde se estabeleciam relações com o mundo exterior. O trabalho e o lazer convergiam para este espaço. As novidades partiam e chegavam com as canoas, na força dos remos. Nas praias, sobretudo próximos dos ranchos das canoas, onde remendava rede e fazia manutenção dos apetrechos de pesca, a caiçarada fortalecia os laços sociais enquanto proseava, contava histórias, causos... tiravam pasquins, propunham adivinhações, combinavam pitirões, caçadas e festas.
Com o passar do tempo, a sanha imobiliária modificou tudo. Os jundus foram ocupados pelas "casas dos tubarões". Depois, na década de 1970, surgiu a moda de acampar nas praias. Nem decretos municipais são capazes de controlar o fluxo nos feriados prolongados, final de ano e férias escolares. Neste momento, imagino famílias inteiras acumulando lixo (que serão deixados ali mesmo ou jogados no mato mais próximo), perturbando até a natureza com seu barulho infernal, em diversas praias, na areia mesmo. Continuam "comemorando" o novo ano. Faz parte da massificação cultural.
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