Ponta e Saquinho do Zacarias (Arquivo JRS) |
Tia Carmelina, nascida na área da Ponta da Fortaleza, onde hoje se conhece como Saquinho do Zacarias, era cheia de bondade, tinha um coração sempre disposto a acolher. Era mais de escutar do que falar; sempre estava cheia de cuidados com as crianças, zelando pela tranquilidade, pela paz. Tinha um dizer: "Quem vive na tranquilidade vive na paz".
Num entardecer, querendo tomar um café na casa dela, onde sempre tinha leite em pó, fui chegando como quem não quer nada. Ela estava sozinha, disposta a prosear. Depois que perguntou da mamãe, de como estava o pessoal lá em casa, ele desandou a falar:
"O mundo é o que a gente vê. Cada coisa, cada bicho tem um sentido, uma razão de estar no mundo, mas o mais importante é comum a todos: ser ornamento. Tudo serve para enfeitar o mundo, assim como estes brincos nas minhas orelhas e esta corrente prateada que trago ao pescoço são ornamentos do meu corpo. As pedras, daquela ali no cisqueiro ou a enorme Pedra da Igreja, são ornamentos. As galinhas e patos são ornamentos. A gente é ornamento do mundo.
Ornar é combinar, deixar mais bonito, enfeitar, deixar harmonioso. Veja no exemplo da casa do vosso tio Maneco Armiro, com aqueles tijolos coloridos na fachada, cada um pintado de uma cor. Não é bonito? Não orna com o dono sempre entusiasmado, pulando para todo quanto é lado?
Não se esqueça disto: a gente é ornamento do mundo. Deixar ele mais bonito e agradável é o nosso papel enquanto temos vida. Pense nisso, menino".
Há muito tempo a tia Carmelina nos deixou. Mas não é significativa essa fala da titia?
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