terça-feira, 1 de maio de 2012

MÊS DE MAIO



Pescadores troiando na baía de Ubatuba - Foto Júlio Mendes

 
  Em maio, não faz tanto tempo assim, tinha início duas atividades  importantíssimas para a cultura caiçara: era tempo das caçadas e da pescaria de tainha. Hoje, saudando todos os trabalhadores, o Júlio nos presenteia com a sua poesia que dá a conhecer, às gerações mais novas e aos que vieram de outras terras, a espectativa de uma temporada de tainha (com suas maravilhosas ovas).



Mês de maio vem chegando
Vem trazendo ar de frio
Tráz também sabiá una
E tainha em cardume

Para a vida caiçara
Era o que interessava
A tainha em cardume
Que do sul aqui chegava

Athanásio e seu Alfredo
Já estavam a esperar
Com canoas e suas redes
Na beira do lagamá

No alto do Curuçá
Zé Vieira a espiar
Quando o mar se refolhar
O seu búzio vai tocar

Foi depois de uma semana
Que o mar se refolhou
Era um grande cardume
De tainha que boiou

Foi ao sol de meio dia
Que a vila escutou
O búzio de Zé Vieira
Que do morro ecoou

Euforia foi tão grande
Que chapéus pro ar voaram
Todo mundo festejava
A tainha que chegava

Braços fortes e mãos seguras
Em canoas a remar
Ruma a proa remador
Ao cardume a saltitar

Larga a rede, bate a tróia
Malha o peixe a sobejar
Puxa o cabo companheiro
Tá na hora de fechar

Nunca vi tão grande lanço
É prá mais de oito mil
Peixe seco vai durar
Até o mês de abril.

A tainha é sagrada
Traz na escama a imagem
Da Divina nossa mãe
Senhora Aparecida

Ao divino criador
Rezo agora e beijo o mar
A São Pedro pescador
Umas mil vou ofertar

Vai ter tainha assada
Na festa do arraiá
Ova frita, concertada...
Muito Xiba vão dançar

Isso que aconteceu
Já se faz bastantes anos
Dos que viram tal fartura
Hoje tem setenta anos.

Esses versos que eu faço
É só para lembrar
Dos costumes dessa terra
De outrora, da fartura.

Fotografia ainda existe
Graças a seu Edson Athanásio
Que preserva com carinho
A memória ubatubana.

Se sobrar um dinheirinho
Peço aos nossos governantes
Que preservem essas fotos
Como grande patrimônio

Patrimônio que relembra
A memória de um povo
Povo que não tem memória
Fica ao léu a desvairar.

                                 (Julinho Mendes – Ubatuba 01/05/2007)

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