Rodrigo, outro pescador caiçara que confirma a pesca do Bauzinho |
Remexendo
nuns papéis da Gláucia, achei algumas pérolas coletadas por ela ao longo de sua
pesquisa sobre causos. O entrevistado de hoje é o saudoso João de Souza.
Em
relação aos acréscimos feitos aos causos (invenções a partir de um
acontecimento) no ato da narração oral ou, principalmente na escrita dos causos
– que se tornam contos, no entender de alguns contadores – o entrevistado
explica:
“Você diz ‘o
escritor é mentiroso’. É, porque ele cria. Ele é mentiroso porque ele cria, mas
tem uma parte, uns sessenta por cento, uns setenta por cento que é verídico,
que aconteceu. São fatos, né? Então ele acrescenta, ele enriquece aquela
cultura. [...]
Tem o causo e tem
a imaginação que é o seguimento do conto. Então quem escreve mistura uma coisa
com outra pra dar uma pitadinha de sal, um gostinho no ponto. Pois se você vai
fazer uma história sem ter uma pitadinha, não fica legal, né? [...] Então tem
que ter uma brincadeira, e eu faço os meus contos, no fim eu faço uma
brincadeira, você tem que relaxar um pouco, né? Muitas vezes é coisa
verídica... [...]
Eu fui
pescar...isso é verídico! Eu fui pescar com o Bauzinho – o seu marido conhece –
pescar a garoupa e a garoupa é um peixe que entoca, pega e vai pras pedras. Com
a linha grossa, a gente pôs um pedaço de peixe grande, bonito, né? Foi lá na
Ponta Grossa, aí jogamos e entocou. A garoupa era enorme e eu com ele não
conseguia tirar e ele não queria cortar a linha. Ele ‘E agora?’, agora não tem
jeito, e ai olhamos em cima da pedra vinham dois pescadores, chamamos, eram
quatro, os quatro fizeram força, nada de sair, aí pegamos mais dois que
chegavam de canoa...aí pegamos em seis...aí a linha tiniu quando chegou na
beira da pedra: a garoupa ficou, mas veio o bucho e a guelra que é formidável
pra fazer pirão, deu pra quinze pessoas almoçarem...Então...
História de
pescador...agora você imagine se viesse a garoupa. Se você pensa que é mentira
o Bauzinho tá aí, o pescador...”
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