quarta-feira, 23 de maio de 2012

A COIVARA


Coivara no Ubatumirim  -  Arquivo Olympio Mendonça
               
                A coivara, para quem não conhece, é a técnica de cultivo mais simples que os caiçaras herdaram dos índios. Na verdade é uma queimada sobre o mato cortado, tendo o cuidado de ter um controle sobre a área cobiçada para o plantio, ou seja, com aceiros bem definidos para o fogo não extrapolar e causar danos demais.
                Geralmente o fogo era ateado em dias sem vento, começando da parte mais alta do terreno, de preferência na parte da tarde, quando predomina uma viração de fora refrescante. Nas divisas se postavam as pessoas com galhos de bastoeiros, de folhagem espessa, apropriado para apagar fogo (servindo como abafadores). Porém, quase sempre o fogo dava um olé no grupo, provocava até um princípio de sufocação, com olhos ardendo etc.
                Depois da queimada, os tocos maiores eram deslocados para as margens, as covas eram feitas e o plantio acontecia sobre as cinzas. Logo se via a maravilha de frutos da terra. Bem mais tarde aprendemos que isso não era o ideal. Afinal, ocorria um desgaste da terra; os nutrientes eram queimados. Ainda tinha os bichos que morriam ou fugiam desesperados por causa do fogo. Só sei dizer que, em meados de cada ano, os morros eram queimados, parecia disputa para ver quem estava disposto a plantar mais. As coivaras deixavam a paisagem marrom por pouco tempo. Depois da primeira chuva, tudo se esverdeava para garantir a subsistência dos caiçaras.
                Haja pitirão para tantas coivaras!

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