A festa de uma redada no lagamar- Arquivo Trindadeiros |
Vovó Martinha, a parteira que tantas crianças trouxe à vida, inclusive eu e mais dois irmãos, falava de seu avô Cabral, um homem de posses: tinha alambique de pinga, criava cabras na Ilha da Maranduba. Suas redes davam lances de milhares de tainhas. Em tais ocasiões, as mulheres e homens passavam o dia inteiro "consertando" peixe na barra da praia do Pulso, assim como outros pescadores tantas vezes fizeram depois. A montanha dos graúdos pescados diminuía, mas ainda era muito grande no serão. Então, o velho Cabral dava novas ordens: só as ovas deveriam ser retiradas. Tudo o mais era enterrado ali mesmo no jundu. Desperdício. Sinal de que naquele tempo os homens já tinham “olhos grandes”, de cobiça.
Após a sarjação dos peixes, o sal das entranhas e a ação do sol nos varais, o processo se completava; peixe seco era fartura para comer e negociar. Seguia-se para a capital (Rio de Janeiro), para a região das Minas Gerais, onde os homens só tinham olhos para o brilho do ouro. Novamente as grandes embarcações do velho Cabral deixavam o mar pacato e afrontavam as travessias com as suas cobiçadas cargas: peixe, farinha e pinga. Desse tempo todo ficaram os nossos nomes e uma velha barrica que há pouco tempo se desmontou no monturo do Sapê.
Agora olho a ilha, mais conhecida hoje como Ilha do Tameirão. Imagino as cabras em outros tempos destruindo o mato para ser mais uma alternativa econômica ao velho Cabral. Nada disso cobiço a não ser uma tainha ovada para comer com café e farinha de mandioca. Agora é tempo! Vamos espiar!
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