Velho pé de jamelão, no Canto do Recife, de onde saía a Luz do Oliveira. |
As surpresas
acontecem! Ontem, por exemplo, recebi um
telefonema inimaginável, do Gildenor, caiçara da praia da Ponta Aguda, filho
dos finados Aristeu e Odócia, que eu tinha em consideração como “a minha
família da Ponta Aguda”.
O Gil, eu fiquei
sabendo então, agora mora no bairro do Massaguaçu, no município vizinho de
Caraguatatuba. A sua fala foi um agradecimento pelas citações que eu faço, de
vez em quando, da sua família no tempo em que moravam na referida praia, de
forma quase isolada. O seu pai era funcionário da ASEL (Ação Social Estrela do
Litoral, do frei Pio). Também disse que está cheio de saudade, com vontade de
conversar comigo. É verdade! Os caiçaras
são assim mesmo!
Depois disso, eu pensei nos muitos momentos de prosas que
eu tive com o pai do Gil. Esta história é uma das que eu escutei num serão,
naquele terreiro maravilhoso que agora existe somente na lembrança:
“Sabe,
Zé, tem história que arrepia a gente,
mas isso quase não acontece comigo. Agora eu vou contar uma que ouvi do Chico
Frade, gente de Catuçaba. Ele morava na roça e tinha que fazer compras na
cidade. Eu não sei como é que é porque eu nunca fui para aquelas bandas. Só sei
que, de acordo com o homem, a estrada era quase um caminho que mais passava gado
do que gente, tinha uma porteira e um bambuzal antes de chegar na sua casa.
Todo mundo dizia que aquele lugar era assombrado, mas o Chico não acreditava
nessas coisas de assombração. Porém, nunca se descuidou e deixou que
escurecesse para ter de passar pelo tal afamado lugar. Só que num dia isso não aconteceu
porque encontrou uns amigos do baralho que não o deixaram ver a escuridão
chegando. Para encurtar: era noite, estava muito escuro quando ele foi chegando
perto da porteira. Ele pensou: quero ver se existe mesmo a tal assombração que
o povo tanto fala.
Não
passou um minuto do último pensamento quando o cavalo começou a relinchar, dar
pinotes parecendo louco. No mesmo instante
o Chico começou a ouvir um assobio forte e ardido acompanhado de uma
risada muito esquisita, que doía nas orelhas. E o cavalo continuava no desespero. Foi quando ele pensou: é o
saci, mas eu não acredito nele. Daí em diante , percebendo que não tinha outra
coisa a fazer, ele se pôs a rezar. Ainda demorou um pouquinho de tempo para o saci
pular do cavalo.
Logo
o cavalo se acalmou; ele mesmo, empurrando a cabeça, abriu a porteira. Ao
chegar em casa, ainda muito assombrado, a primeira coisa que o Chico Frade
falou para a sua mulher foi que, daquele dia em diante, ele também acreditava
em assombração, mas não teria medo porque estava sempre com Deus”.
Deste
modo, com uma risada muito discreta, o finado Aristeu concluiu:
-
Não era corajoso o meu amigo Chico? Agora, Zé, vamos entrar porque hoje é
quarta-feira, dia das almas andarem pelo mundo durante a noite. Saci não tem por aqui; é coisa de caipira. Não que eu
acredite nisso, mas... vamos entrando logo.
(Ah!
Também o pessoal de casa deu risada após o telefonema.
Perguntaram se eu estava falando alto porque o Gil estava longe, em
Caraguatatuba. É mole?)
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