Dia de desfile cívico-escolar (Arquivo Ubatuba) |
Professora Heloísa, a estimada Tia Helô, natural da cidade de Lorena, escreveu: "Em março de 1947, vindo de Taubaté, cheguei em Ubatuba para ficar". E foi assim mesmo! Se entregou de corpo e alma à paixão de ensinar e de conviver com a nossa gente. Nos desfiles da minha adolescência, quando as escolas se organizavam para "fazer bonito" pelas ruas do centro da cidade, lá estava em evidência a decidida professora nos retoques finais. Graças aos seus apontamentos e lembranças, nós temos A saga de uma caipira em terra caiçara de Anchieta, obra dela a retratar nossa cidade e nosso povo caiçara de tempos atrás . Em relação às festas, ela grafou:
Festa aqui era o que não faltava. Hoje, muitas já perderam o prestígio de outrora. Mas, quando aqui cheguei, encontrei uma cidade que se coloria para as comemorações populares, abrindo suas casas de chão de tábua corrida, para danças com tamancos e bate-pé, oferecendo cachaça para os homens e a "consertada" para as mulheres. Bebida inocente , onde se misturava casca de laranja, cidrão, cravo, canela e picumã, com um pouquinho de cachaça. Dava um bom resultado, a garrafa passava de mão em mão e todas tomavam bons goles, dando a volta pela sala do baile. Eu, sem conhecer o resultado, andei tomando uns goles a mais, e soube no dia seguinte, que falei coisas sem pensar. Aliás, pensar era uma coisa que a consertada tirava da gente. Nada se pensava, só se ria.
A Folia de Reis que ia do Natal até o dia 6 de janeiro, me emocionava com seu toque de viola e suas louvações aos donos da casa, que obrigatoriamente recebiam os cantadores com mesa farta, afastando depois as cadeiras, para então dançarmos o chiba.
A festa do Divino, com suas bandeiras vermelhas, encimada por uma pomba branca, suas procissões enormes e toda a sua pompa, fazia a cidade correr e se espremer para ver sua passagem solene, acordava o povo com o toque de alvorada, seguida pela banda de música que percorria as ruas da cidade
As festas juninas, com suas fogueiras, danças e barraquinhas típicas, parece que hoje viraram obrigação das escolas.
A festa de São Pedro, tradicionalíssima, é a única que continua sendo um grande atrativo, com sua procissão no mar, muitos barcos enfeitados e a sempre bem vinda tainha com farofa.
E o carnaval, então? Mobilizava toda a cidade. Era formado por diversos Blocos da Folia. Os foliões faziam uma zoeira geral. Era chegado o carnaval, a época tão esperada pelos cantores de marchinhas e bailarinos de rua, mascarados, o terror da criançada.
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