sábado, 30 de outubro de 2021

AI DE TI, UBATUBA!

 

Praia Grande 2021- Ubatuba  (Arquivo Santiago)

Praia Grande por volta de 1960 - Ubatuba  (Arquivo Ubatuba)

Santiago, nas andanças e nos trabalhos, partindo daqueles que são sinais da resistência contra todas as formas de exploração, produz mais um texto claramente em prol da VIDA PARA TODOS e não para uma minoria. Valeu, irmão!

 

Ai de ti, Ubatuba!

Nada a comemorar!

    No aniversário da cidade há sempre um ufanismo em se comemorar a data. Ufanismo vazio, como todos são. Mas cada vez mais há menos a comemorar nas terras de Cunhambebe! Uma terra roubada dos povos originários e posteriormente roubada dos caiçaras e quilombolas!

   Uma cidade que não tem saneamento suficiente para uma população inchada, para o crescimento desorganizado que as administrações públicas fomentam e incentivam. Uma cidade que não tem segurança adequada para seu povo e para os visitantes.

   Uma cidade que polui seus chamados principais atrativos turísticos, suas águas, com esgoto, plástico, restos de construção civil, que invade as margens de seus rios arrancando a mata ciliar e construindo em cima de seus manguezais, berçário dos oceanos.

   Uma cidade que não apoia seus povos tradicionais, que não reconhece e valoriza sua história, que homenageia genocidas colonizadores e genocidas atuais da república. Que não apoia seus povos indígenas em suas lutas essenciais.

   Nada a comemorar! Ao menos para nossos povos tradicionais, expulsos de suas terras, que foram e continuam sendo griladas descaradamente. Uma cidade que derruba árvores para levantar prédios num ritmo voraz! Que não é capaz de gerir um turismo de qualidade, verdadeiramente sustentável, não apenas para os bolsos de uns poucos, construtoras, incorporadoras e políticos.

   A cidade faz festa, pinta bandeiras, muros, políticos fazem discursos demagógicos, como é de especialidade deles, mencionam as comunidades tradicionais como é de praxe fazerem quando tem interesse, embora pouco façam por elas, enquanto ao redor o plástico, o esgoto, a violência, o abandono alastram-se imensamente, prédios crescem sobre a restinga, sombreando as praias e enchendo os bolsos de empresários da especulação imobiliária.

   Parafraseando uma antiga crônica de Rubem Braga, "Ai de ti, Copacabana", escrita em 1956, em que ele vaticina contra toda hipocrisia e vaidade de uma cidade que crescia sem planejamento e com avidez de abutre sobre os terrenos seculares dos povos Indígenas e caiçaras, hoje poderia ser perfeitamente "Ai de ti, Ubatuba".

Infeliz aniversário!

 

 

    “Ai de Ti, Copacabana, porque te chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras, e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite”.

“Grandes são teus edifícios de cimento e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar, mas eles se abaterão.”

    “E os polvos habitarão os teus porões e as negras jamantas as tuas lojas de decorações e os meros se entocarão em tuas galerias...”

   “Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum”.

2 comentários:

  1. Excelente reflexão do nosso amigo Santiago. Pena que, em Ubatuba, grande parte do povo está muito preocupada em justificar as atrocidades do mito em vez de pensar nos problemas do nosso município e do país.

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    1. Estava pensando exatamente isso quase agorinha mesmo, depois que escutei alguém lascado, aqui da rua, dizer que LULA não tem chance. Haja capim para tanto gado!

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