Flor do Japão - Arquivo JRS |
Acordei e fui olhar as plantas, ver as novas flores que surgiram nesses dias no meu quintal. Um perfume no ar logo me levou ao recanto das flores do Japão, que também é conhecida por flor da ressurreição. Sua planta perde todas as folhas, e, de dentro do chão, vem surgindo as flores lindas e cheirosas. Quando criança, eu a conheci no jardim da vovó Eugênia, mas marcante mesmo foi o dia em que cheguei na casa do Toninho e do Mané, lá no Sertão do Ingá, onde me admirei da quantidade, do grande espaço que elas ocupavam no terreiro e no cisqueiro. Pensando nas flores que me alegraram nesta manhã, vou transmitir aquilo que escreveu a professora Heloísa, a Tia Helô, de outra professora: a Aurelina Ferreira da Silva, a Lolita, muito atuante na escola do bairro do Itaguá, em Ubatuba, na década de 1950.
Bonita, jovem, simpática, inteligente, companheira de missas e cinemas, de bate-papo e troca de confidências, Lolita era uma pessoa ímpar no seu bom senso, no seu empreendimento, na sua capacidade de interpretar e respeitar costumes e valores, que muitas vezes era tão contrários e tão diferentes dos meus, que chegava mesmo a prejudicá-la.
Diferente de mim, que fazia tanta questão de dizer e fazer o que muito entendesse, não me importando com o falatório que poderia advir de tais atos ou palavras (por ter vivido infância e adolescência sob pressão das freiras e avó), Lolita, ao contrário, repetida sempre: "Eu conheço o meu lugar".
Como profissional, foi uma das melhores que eu conheci. Muitas vezes assisti suas aulas, para com ela aprender melhor e ensinar, mas nunca consegui ser igual, nunca adquiri totalmente o seu traquejo. Nela havia uma entrega, uma comunicação, um bem querer, uma maneira tal de conduzir a sua aula, com tanto saber, doçura e firmeza, que literalmente, hipnotizava. Para nós professores, era um exemplo, um modelo a ser seguido. Para seus alunos era insubstituível, única. Usava seu ordenado para comprar roupas e brinquedos para as crianças. Quanto às mães, todas queriam que seus filhos estudassem com ela, é claro. Era muito querida e respeitada pela comunidade caiçara do Itaguá.
Na sua vida pessoal, Lolita amou e foi amada, amou incondicionalmente e foi amada na mesma proporção. Eu fazia questão de com ela andar de braços dados pelas ruas e com um altruísmo próprio de pessoas muito especiais, que não querem ou não necessitam provar nada a ninguém. Ela convivia com a sociedade respeitando as normas impostas, apesar de saber que eram normas hipócritas.
Lolita veio do Vale do Paraíba, sua família residia em São José dos Campos. Foi num dia de visita à família que ela teve sua vida ceifada por um motorista imprudente e um caminhão desgovernado.
Saudades Lolita! Muitas saudades! De tudo isso que vivi, tirei sábias lições para levar pela vida.
Lolita era uma flor no chão caiçara. Desde a década de 1980, seu nome está gravado na parede da escola do bairro da Estufa II: "Escola Professora Aurelina Ferreira da Silva".
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