O IRMÃO DO BANGA

 

Em cores - Arquivo JRS

      Bem-vinda ao blog, Silmara!

   Encontrei a Dete em animada prosa com uma amiga, mas fez questão de dar a notícia assim que me aproximei: "O Tiano vai pintar a estátua do caiçara. Ele convidou o pai para ajudar no trabalho. Estou feliz por isso". Foi uma novidade mesmo! Eu imaginava que os andaimes estavam sendo montados para uma limpeza geral.

     Tiano é filho de outro artista: o D'águas. Agora, para quem não sabe: um é filho e outro é neto daquele que serviu de modelo para a estátua, o Zé Capão ou Zeca Pão.  Na verdade, Zé Vieira. Imagino a alegria dos dois nesse trabalho e não vejo  a hora de ver a tarefa finalizada.

    Outra pessoa que encontrei no mesmo dia, além da Dete, foi o irmão do Banga. E aqui me demoro mais. Banga e seus irmãos ficaram órfãos cedo. Quando eu os conheci, fazia pouco tempo que o pai falecera. A mãe partira uns quatro ou cinco anos antes. Certa vez, numa época de carnaval, me encontrando com o Tãozinho fazendo um telhado ao lado da casa deles, notamos toda a irmandade se arrumando para o desfile no Bloco da Cachorrada: os rapazes se vestiam de mulheres e as moças caprichavam em suas fantasias de homens. E lá se foram na maior animação para a folia na Avenida Iperoig. Sob o ritmo da percussão, desapareceram  no final da tarde. De repente, o Tãozinho solicita a minha atenção: "Você percebeu, Zé, que as meninas até que deram  uns homens bonitos, mas, em compensação, os meninos ficaram muito feios nos papéis de mulheres. Quem aguenta isso?". Eu caí na gargalhada: "Você acredita que era essa mesma observação que eu ia lhe fazer?". Passou muito tempo disso. Mas tempo mesmo! À tarde, na Praia da Cocanha, em Caraguatatuba, um motoqueiro passou dando umas buzinadas. Acenei mesmo sem saber  quem era. Ele deu meia volta, parou na minha frente e já foi tirando o capacete. Era o irmão do Banga, estava radiante, alegre mesmo por me ver ali. E veio assunto em cima de assunto. Quando lhe recordei daquela ocasião, quando eles foram sair na Cachorrada, ele riu muito. Eu também.  Como é bom encontrar em nossos caminhos esse tanto de gente boa! Antes de se despedir,  perguntou: "Você sabe como vai ficar a pintura do Caiçara?".  Apenas repeti aquilo que a Dete falou: "Vai ficar  muito bonita. Eu confio no talento do Tiano".