Espuma de esgoto chegando ao mar - Arquivo JRS |
No ponto do ônibus apenas uma senhora. O
dia continuava chorando, forçando eu a não deixar o guarda-chuva por algum
lugar. Dentro de poucos minutos viria o ônibus, mas ainda havia um tempo para papear.
O que gerou a prosa foi uma simples casca de banana que quase resultou num
tombo de um rapaz chegando naquele instante. “É
falta de educação de alguém. Não foi um cachorro quem trouxe isso, pois ele não
come banana”. Não tive como não concordar. A dita senhora continuou no
assunto do lixo: “Eu moro na rua
Jabaquara. O senhor acredita que, no rio que passa ali perto, um dia desse
tinha até um colchão servindo de barragem. É falta de educação mesmo!”. Como
discordar dela? E ela continuou no
tema: “Eu tive de retirar a minha lixeira
da calçada porque a vizinhança se achava no direito de depositar ali o lixo
dela. Uma pastora evangélica, vizinha da frente, era a primeira a fazer isso.
Para o senhor ter ideia, a lixeira dela ficava sempre trancada, só a vi
aberta, destrancada, depois de eu ter
retirado a minha da calçada”. Então eu aproveitei a deixa porque passei
por situação semelhante. No meu caso era um pastor sem-noção, também
evangélico. Precisei chamar atenção três ou quatro vezes dele porque ele
folgava muito; sem educação e respeito pelo alheio, deixava as sacolinhas de
lixo no meu equipamento. Quando eu ia desarmar a lixeira, que é fixada no
muro, ele já tinha feito isso e depositado ali seu lixo para ser recolhido pelos funcionários da limpeza pública.
Quero salientar isto: não é mérito de tal ou tal crença ter educação ou não tê-la. Educação vem de casa e se aperfeiçoa na escola. Junto com a instrução – aprender a ler, escrever etc. – , a educação libertadora se compromete com as melhorias sociais. Infelizmente, conforme o estimado Jorge disse, “muitos pais estão preocupados apenas com o bem-estar de seus filhos, ou seja, que se deem bem na vida. Os filhos dos outros podem ser explorados, escravizados, eliminados". Esses adultos, pais e mães, que não têm posturas de civilidade sequer no espaço da vizinhança, também não respeitarão outras dimensões da vida em sociedade. Pior: podem desfazer aquele trabalho empenhado junto aos filhos no espaço escolar. É verdade, meu amigo, concordo. Por isso vamos constatando e sofrendo com as alterações no espaço caiçara: esgotos a céu aberto, escorrendo pelos logradouros, amontoados de lixos nas esquinas, montanhas de entulhos na vias públicas, móveis velhos, galhos e podas descartados em locais inadequados, pelos rios etc. O meu desafio vem inspirado na fala do próprio Jorge: O que fazer para que as reflexões comprometidas com as melhorias sociais façam parte dos sonhos de mais gente?
Bacana estas prosas, é só puxar assunto e as histórias de sabedoria brotam
ResponderExcluirIsso mesmo! E todo mundo tem! Só precisamos fortalecer nossas proximidades, sensibilidades e escutas
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