Tangará e outros passarinhos pelos muros da cidade (Arquivo JRS) |
Andando pelas ruas da cidade de Ubatuba, você poderá se deparar com lindas imagens de vários motivos, diferentes estilos etc. Mas o que mais me atrai são as aves. Não me canso de olhar a beleza delas nas matas e no talento de quem as pintou. Trazê-las para os nossos olhos, enfeitar nossos logradouros com o colorido das aves é uma ótima ideia. Parabéns ao pessoal que faz essas obras de artes! Parabéns aos patrocinadores!
Dando continuidade ao Sermão das Aves, de Rubem Alves, somos levados a pensar nos possíveis motivos do retorno das aves às cidades. Vale a pena abrir a alma para a reflexão.
Tantas provas da volta dos pássaros me fizeram pensar numa possível conspiração das aves, algo parecido com o filme de Hitchcock. Mas o sobressalto teve curta duração, porque nada de suspeito ou de subversivo pude perceber quer no seu comportamento, quer nas suas ideologias trinadas... E me alegrei imaginando que, talvez, por razões que a minha razão desconhece, tivéssemos experimentado um milagre de renovação. Ah! Faz tempo que os pássaros nos abandonaram. Lembrei-me de um livro que li faz anos, título esquecido. Me recordo que, num submarino, eles mantinham um canário engaiolado. Não por amor ao bichinho, mas por amor à própria vida. É que quando o oxigênio ia acabando, o passarinho era o primeiro a morrer. Sinal de que faltava pouco tempo. Pois é. Nossos pássaros abandonaram, espantados, as nossas cidades. Antes de morrerem. Para não morrerem. Emigraram para lugares distantes onde a vida ainda morava. Os pastos que restavam. As poucas matas que haviam sobrado. E nos deixaram sozinhos, no submarino condenado. Sua ausência era coisa triste, lamento, canção fúnebre, sermão sem palavras. Mas, agora voltavam... Quem sabe a esperança estava renascendo... E me alegrei. Até que um amigo mais entendido dessas coisas me disse:
- Não é nada disso. Estão fugindo dos campos. Estão cobertos de mortes. Herbicidas, inseticidas, desfoliantes, fertilizantes...
Aí entendi o sermão que as rolinhas, os bem-te-vis, as coleirinhas e as curruíras estavam pregando. "O terror vem, o terror vem... Os campos são desertos verdes..."
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