A praça-campo Treze de Maio, no coração da cidade (Arquivo Ubatuba) |
Eu, criança ainda, quando o tio Francolino, no ponto do ônibus da Praia Dura, dissera que "aquela montoeira de gente nova, vinda de Caraguá, seguiu a pé por conta de uma partida de jogo de bola no centro de Ubatuba", pensei que teriam seguido a rota do Sertão das Cotias, que chega na cidade pelo Monte Valério. Só desfiz tal "verdade" quando continuei no relato do Arouca, um dos componentes daquele grupo de outrora.
Seguindo a leitura do fato histórico:
"A primeira aflição foi atravessar o rio [Escuro, antigo Iriri, no canto da praia da Barra. Hoje tudo é chamado de Praia Dura], por aquela ponte que mais parecia um balanço, tão insegura quanto apavorante. A maré em alta molhava o piso de madeira roliça... [...] A trilha era, na verdade, apenas a marcação por onde ainda ia passar a picada. Mata fechada, trechos íngremes e pedaços de árvores ainda permaneciam caídos no caminho estreito. Gritos estridentes das moças eram ouvidos a cada desequilíbrio na lama escura [...] Ao longe, atrasado, devagar, vinha o seo Paulo, roupeiro, sacos às costas, mais sujo do que ninguém. Com o incrível desgaste sofrido, seria impensável jogar futebol naquele dia! Mas a palavra dada haveria de ser cumprida".
Na verdade, aquela juventude caraguatatubense enfrentara o Morro do Pinhão. Os rapazes e as moças venceram os quatro quilômetros até o Lázaro, onde puderam embarcar na condução que os esperava. Haja disposição! "Exaustos e sujos, tomar a carroceria de um caminhão naquela condições, sentados em bancos de tábua, parecia estar no mais aconchegante e confortável dos transportes".
Depois da chegada, durante o almoço no hotel da Idalina Graça, o rádio no salão deu uma triste notícia: "Morreu Francisco Alves, o cantor mais popular do Brasil! Um desastre na Via Dutra, no município de Pindamonhangaba, em viagem de São Paulo para o Rio de Janeiro, matara o artista famoso". Todos ficaram tristes, mas uma hora depois rumaram ao campo de futebol que ficava pertinho. "O serviço de alto falante anunciava a nossa presença e exaltava os motivos daquele evento. De quando em quando anunciava a morte do cantor, fazendo-se ouvir suas canções mais populares. O jogo terminou empatado pela contagem mínima, nada tão extravagante que um pequeno entrevero não chegou a empanar o brilho da partida. O encontro, contudo, selou um amizade duradoura, asseverada por muitos outros encontros, em meio a grande cordialidade, agora possibilitados pela estrada nova que havia vencido gloriosamente o Morro do Pinhão".
Fica aqui a sugestão de comemorar, a cada 28 de setembro, essa amizade selada pela determinação dessa juventude em 1952. Que tal através de um dia de festa, com futebol entre equipes das duas cidades?
Nenhum comentário:
Postar um comentário