Monteiro Lobato (Arquivo internet - aescotilha.com.br) |
Eu sou de uma geração de livros infantis e de quase nenhum televisor; de ter aulas até nos dias de sábado na mais recôndita das salas de aulas esparsas por nossas praias e sertões. Me recordo bem de que, nas aulas que antecediam nossos domingos, o tempo era dedicado à leitura e produção de ilustrações a partir do que foi lido. Mesmo que fossem poucos os livros, havia o básico de nossas autoras e autores nacionais. Lógico que Monteiro Lobato, o escritor taubateano, era o que mais se tecia entre os tão manuseados pela minha turma. Depois, conforme foram chegando os televisores, mesmo com péssimos sinais de recepção, grande sucesso faziam os capítulos do programa inspirado no referido escritor, o "Sítio do Pica-pau Amarelo". Dias desses, entre as páginas da Idalina, achei uma carta do escritor famoso para a nossa humilde caiçara que, entre a correria para atender bem seus hóspedes no Hotel Ubatuba, arranjava tempo para escrever suas observações, reflexões, histórias e causos que ia colhendo nas andanças e convivências. Um detalhe: a carta tem data de 07 de abril de 1948, pouquíssimo tempo antes do falecimento de Monteiro Lobato (04 de julho de 1948).
São Paulo, 7 de 4 de 1948
D. Idalina, boa amiga.
Recebi antes sua carta, mas com a má notícia do desastre que sofreu seu marido e a boa notícia de que continua valente como sempre no heroísmo sem tréguas, que é a sua vida de trabalho no Hotel. Tenho uma grande admiração pelas mulheres fortes de seu tipo, que se atracam com a vida, como toureiro se atraca com o touro. São para mim as verdadeiras heroínas, muito maiores que as heroínas espetaculares, que ganham fama com um feito qualquer, e passam o resto da vida a dormir sobre os louros. A senhora pertence ao tipo heroína que é 24 horas por dia - o ano inteiro - toda a vida. Diz que encostou os sonhos literários; ótimo; às vezes os sonhos literários encostados ganham em beleza com o repouso e ao serem desencostados surgem mais lindos. Faço votos para que seja este o seu caso.
Não se incomode em mandar-nos camarões; mesmo sem eles a lembrança que conservamos da senhora é das mais vivas e das mais queridas. Deixe os pobres camarões em paz no oceano... e queira sempre bem ao Monteiro Lobato.
Fazemos votos para que mesmo privado de uma perna seu marido se sinta conformado e saiba adaptar-se ao unipernismo. Tudo neste mundo é um simples caso de adaptação. Minha residência é sempre a mesma.
Monteiro Lobato
Barão de Itapetininga, 93/13º andar.
Lobato de peito aberto como costumava ser. Achei um equívoco da sua neta reescrever uma de suas obras escoimando trechos que se condenam hoje em dia. Proponho que ela reescreva a Bíblia também.
ResponderExcluirOlá, Jorge. Eu penso igual a você. Cada um é fruto do seu tempo. O que podemos fazer é tirar lições do passado para melhorar o presente, dar outras diretrizes ao futuro. Agradeço muito pelos seus comentários. São de grande valia. Abração, amigo.
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