Praias Domingas Dias e Lázaro depois. No último morro morava Madalena (arquivo postal) |
“Logo ali,
na subida do morro do Flamengo para a Sete Fontes, depois da grande figueira branca,
subindo pela direita era o caminho da tia Madalena. Subindo, subindo, lá no
topete do morro, era a sua casa. Tudo em volta era roçado. Outro caminho, mais penoso, saía do canto da Sununga. Que vista a gente
tinha de lá! Se enxergava desde as ilhas até o morro do Corcovado. Todas as
praias se avistava dali”. Quem me contou um dia esta história foi o seo Antônio
Peres, da praia do Lázaro. “Madalena e Benedita
eram irmãs mais velhas da minha mãe Maria. Havia outras que não cheguei a conhecer. Quando saiu a lei que libertou os
escravos, muita gente preta ficou ao Deus dará, largada por aí. Precisaram
arrumar alguma posse para construir um abrigo, plantar e sobreviver. Então, por
esse morro acima, foram se virando. Eu, bem pequeno, era levado pela mamãe nas
vezes que ela se bandeava para visitar a irmã dela. Tenho boas lembranças daquele
lugar”.
Como é bom poder
escutar histórias assim! Adoro! Pode contar mais, seo Peres.
“Um dia ficamos lá, na casa da tia Madalena,
para dormir. No serão, estando sentados em um toco no terreiro, ela, olhando
para o Corcovado, contou a história da mãe do ouro, da luz que deixava o morro
da Jacutinga, na Lagoinha, e voava pelas grotas e espigões até chegar na grande
pedra e desaparecer nela. Garantia, essa gente antiga que, onde essa luz se
escondia havia ouro. Eu já conhecia histórias assim, mas nunca dei muito
crédito. A noite chegou e uma fogueira foi acesa. A prosa continuou. De
repente, a titia chamou a nossa atenção. Lá longe vinha uma luz pequena por
cima de tudo. Aquilo parecia mesmo que tinha saído do morro da Lagoinha. E,
você acredita que ela, chegando no paredão do Corcovado, desapareceu? Desde
esse dia eu não duvido que alguma coisa diferente tem naquele lugar. No futuro
alguém pode se interessar e pesquisar melhor aquilo ali, saber mais daquele lugar”.
Madalena era tia do meu bisavô
João da Barra. Ou seja, tia-avó da vovó Eugênia. As três irmãs e outras mais eram escravas na
praia do Lázaro, me afiançou o vigoroso caiçara, morador do jundu, no Lázaro, onde eu fui vendedor de sorvete na pré-adolescência. Há
alguns anos esse parente nos deixou, mas a geração dele continua tocando o comércio
iniciado por ele. Quando eu era adolescente, chique era ir ao Bar do Peres,
sobretudo no carnaval. A praia se tornava pista da folia.
Um dia, espero, a nossa história será
melhor conhecida e estudada. Quem sabe ainda encontraremos sinais da roça da Madalena e de tantas outras pessoas que precisaram se recriar para conseguir viver!?
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