quinta-feira, 1 de julho de 2021

HAJA DISPOSIÇÃO!

Tio Ciro do futebol (Arquivo Ubatuba)


        Tio Francolino, morador do Sertão do Corcovado, adorava uma prosa. Numa ocasião, enquanto esperávamos o ônibus no ponto da praia Dura, ele nos contou de um grupo, de rapazes e moças, que viera de Caraguatatuba, quando a estrada nem era concluída, para uma partida de futebol no centro de Ubatuba, onde hoje é a praça 13 de maio. (Quem a conhece precisa saber que ali era tudo plano, um areal até a gestão Pedro Paulo  - 82 a 86 - quando recebeu aterro, ganhou uns morrotes, mais árvores e outros detalhes paisagísticos). Na hora fiquei imaginando um monte de gente diferente por ali, onde estávamos. O primo Manequinho ficou encucado: "E como foi que eles continuaram a viagem se não tinha mais estrada dali em diante?". Titio explicou que foram a pé, pelo morro. "Era uma rapaziada corajosa, viu! Saíram de madrugada de Caraguá, chegaram aqui no clarear do dia. Tinha estrada pronta até ali; os carros já chegavam até na ponte; o Morro do Pinhão estava sendo vencido ainda porque era preciso estourar muitas pedras. Vocês acreditam que eles foram assim mesmo, lá na cidade, só para um jogo de bola?".  Agora, depois de tanto tempo, achei mais notícias daquele fato contado pelo tio Francolino. Quem dá detalhes é Justo Arouca:
 

     "Sabendo que a estrada chegara ao bairro do Rio Escuro, o prefeito de Ubatuba, José Fernandes, dirigiu ofício ao seu colega Antônio Augusto Matheus, de Caraguatatuba convidando o time de futebol da cidade para uma partida em Ubatuba. O prefeito ubatubense programara inaugurar, festivamente, melhorias no serviço da rede de água na região central da cidade. O primeiro jogo de futebol entre as duas cidades seria uma atração das melhores para celebrar o acontecimento. Ficou combinado que os jogadores do XV de Novembro iriam até o bairro do Rio Escuro pela estrada nova e tomariam um barco daí para o Lázaro, de onde seguiriam para a cidade em um caminhão da prefeitura. [...] Havia uma arrebentação muito forte, comum, nestas circunstâncias, mas, o suficiente para assustar os visitantes. Com os jogadores viajava um grupo de moças, que também usavam argumentos que desencorajavam a travessia pelo mar. O barco de pesca, ao longe, parecia pequeno demais para suportar tanta gente e, para chegar à embarcação era preciso ir de canoa, no máximo de três em três, um grande embaraço para seguir viagem [...] Estávamos no domingo, de manhãzinha, 28 de setembro de 1952! Uma decisão foi tomada em rápida reunião entre os responsáveis pela excursão: enfrentar o morro... a pé, só podia!".


   


 

Um comentário:

  1. Bom seu blogue. Eu sempre pra ler estas histórias interessantes. Viva o povo brasileiro.

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