Flor no caminho - Arquivo JRS |
Ana Joaquina da Rocha Santos era o seu nome. Foi uma religiosa dedicada,
não medindo esforços para servir aos mais pobres da nossa terra. Por isso quase não era vista
no centro da cidade, junto às demais freiras. O dia amanhecia, após a primeira
oração na comunidade e um rápido café, ela se atracava a um embornal e se ia a
serviço de uma causa que descobrira ainda moça. Passava o dia andando, escutando e
buscando ser útil com palavras e ações. Os lugares mais afastados eram os que
mais atraiam seu coração. Por isso, com a chegada do “Barco do Padre”, cujo
nome era Maria Silla, essa religiosa também serviu à missão na porção
norte do município de Ubatuba.
Ana Joaquina da Rocha Santos era o seu nome, mas para o
mundo dos crentes acudidos ela era Irmã Verônica, uma missionária no nosso espaço
caiçara, nas nossas áreas rurais. “Ah! Então é por isso que você se chama
Verônica?”. Era eu perguntando à Verônica, do Sertão da Quina, madrinha da mana Ana. “Isso mesmo! Eu ainda me lembro dela em nossas vidas. Ela dizia que cada
praia, cada bairro desta Ubatuba era uma pérola engastada no litoral, a
substância deste lugar, precisando sempre de cuidados para não deixar de ser atraente, de perder a sua beleza. Me lembro bem de um dia de inverno, quando este morro se
encontrava em cerração porque o sol ainda se encontrava sem forças para espalhar tudo,
daqui do terreiro, olhando para baixo, avistei um vulto se aproximando, vindo
devagar morro acima. Eu era menina, pequena de tudo. Quem vinha ali, logo cedo? A madre Verônica! Havia
chegado um dia antes, pousara na praia, no Sapê, na casa da Maria Ballio. Assim que o
dia clareou, se baldeou para o nosso sertão. A gente correu para pedir a ela as bençãos. Era um alegria para todo mundo
poder ver aquela mulher, escutar suas palavras e aprender sempre algo que nos
valia em nossa vida de pobres. Aquele dia foi o dia mais feliz da minha vida.
Ainda é! Ela, depois de uma jornada tão atarefada, decidiu ficar em nossa casa,
aceitou o pouso oferecido. Eu era grudada a ela; acho que devido à força do nome que
herdei daquela santa mulher. Foi a minha oportunidade de poder dormir
abraçada a ela naquela noite, sentindo um aroma muito especial em sua simples vestimenta.
No dia seguinte, bem cedo mamãe fez o café. Na cerração, do nosso terreiro nos
despedimos dela com lágrimas nos olhos. Ela era maravilhosa. Para nossa tristeza, ela foi embora. Seu vulto sumiu na cortina
esbranquiçada de mais uma manhã fria. Depois disso, uma complicação em seu
coração nos levou aquela que tanto nos ajudou. Aquela imagem, dela sumindo morro
abaixo no nevoeiro, foi a última que tenho dela, da Irmã Verônica”.
Bom título! sugere tragédia, mas trata-se de um relato comovente.
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