domingo, 18 de julho de 2021

VERÔNICA SUMIU NA CERRAÇÃO

 

Flor no caminho - Arquivo JRS


     Ana Joaquina da Rocha Santos era o seu nome. Foi uma religiosa  dedicada, não medindo esforços para servir aos mais pobres da nossa terra. Por isso quase não era vista no centro da cidade, junto às demais freiras. O dia amanhecia, após a primeira oração na comunidade e um rápido café, ela se atracava a um embornal e se ia a serviço de uma causa que descobrira ainda moça. Passava o dia andando, escutando e buscando ser útil com palavras e ações. Os lugares mais afastados eram os que mais atraiam seu coração. Por isso, com a chegada do “Barco do Padre”, cujo nome era Maria Silla, essa religiosa também serviu à missão na porção norte do município de Ubatuba.

     Ana Joaquina da Rocha Santos era o seu nome, mas para o mundo dos crentes acudidos ela era Irmã Verônica, uma missionária no nosso espaço caiçara, nas nossas áreas rurais. “Ah! Então é por isso que você se chama Verônica?”. Era eu perguntando à Verônica, do Sertão da Quina, madrinha da mana Ana. “Isso mesmo! Eu ainda me lembro dela em nossas vidas. Ela dizia que cada praia, cada bairro desta Ubatuba era uma pérola engastada no litoral, a substância deste lugar, precisando sempre de cuidados para não deixar de ser atraente, de perder a sua beleza. Me lembro bem de um dia de inverno, quando este morro se encontrava em cerração porque o sol ainda se encontrava sem forças para espalhar tudo, daqui do terreiro, olhando para baixo, avistei um vulto se aproximando, vindo devagar morro acima. Eu era menina, pequena de tudo. Quem vinha ali, logo cedo? A madre Verônica! Havia chegado um dia antes, pousara na praia,  no Sapê, na casa da Maria Ballio. Assim que o dia clareou, se baldeou para o nosso sertão. A gente correu para pedir a ela as bençãos. Era um alegria para todo mundo poder ver aquela mulher, escutar suas palavras e aprender sempre algo que nos valia em nossa vida de pobres. Aquele dia foi o dia mais feliz da minha vida. Ainda é! Ela, depois de uma jornada tão atarefada, decidiu ficar em nossa casa, aceitou o pouso oferecido. Eu era grudada a ela; acho que devido à força do nome que herdei daquela santa mulher. Foi a minha oportunidade de poder dormir abraçada a ela naquela noite, sentindo um aroma muito especial em sua simples vestimenta. No dia seguinte, bem cedo mamãe fez o café. Na cerração, do nosso terreiro nos despedimos dela com lágrimas nos olhos. Ela era maravilhosa. Para nossa tristeza, ela foi embora. Seu vulto sumiu na cortina esbranquiçada de mais uma manhã fria. Depois disso, uma complicação em seu coração nos levou aquela que tanto nos ajudou. Aquela imagem, dela sumindo morro abaixo no nevoeiro, foi a última que tenho dela, da Irmã Verônica”.

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