sexta-feira, 16 de julho de 2021

A CADEIRA ONDE CRISTO SE ASSENTOU

 

Casal de foliões (Arquivo K. Setti)

      Impressionante como sagrado e profano estavam caminhando juntos nas cantorias dos antigos caiçaras! Kilza Setti,  cuja obra a respeito da nossa musicalidade em Ubatuba vai de meados da década de 1970 até meados da década seguinte, diz que "para o caiçara não importa misturar, ao sagrado, fatos corriqueiros, nem sequer reservar os poderes do milagre para situações mais graves. Utiliza o sobrenatural sempre que está em dificuldades ou sempre que as soluções se configurem como difíceis, uma vez que ele não separa o sobrenatural do natural, mas antes os vê num processo de inter complementação". Com base em quê a estudiosa afirma isso? Muito fácil, oras! Preste atenção na letra da cantoria.


Eu ofereço este bendito, ai

com palavras de oração, ai

O Rosário e o Espírito Santo, ai

Pra nos dá a salvação, ai


Aí, vô dá um gradecimento, ai

Pra tão boa refeição, ai

Ai, nos deram com prazer, ai

Pra nós e c'os folião, ai


Ai, Jesus perguntou, ai

Ai, quem tratô dos folião, ai

Nossa Senhora respondeu, ai

Vossos filho da benção, ai


Ai, a sua sagrada mesa, ai

O Divino partilhou, ai

No meio tem uma cadeira, ai

Onde Cristo se assentou, ai


Eu agradeço a cozinheira, ai

Trabalhando no fogão, ai

Ai, em louvor dessa bandeira, ai

Ai, em roda dos folião, ai


      É isso! Está no livro Ubatuba nos cantos das praias, da Kilza, publicado em 1985: "Os versos atestam a familiaridade que permite mesclarem-se Deus e os homens: o sagrado e os elementos do cotidiano".

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