terça-feira, 21 de agosto de 2012

CAMBURI DE MUITA GENTE


Pitirão  para retirada de canoa da mata.
Caiçara do Camburi: da madeira à canoa (Fotos: Canoa Caiçara)

                Quando busquei um título, na primeira vez, quis chamar o Camburi de uma “ilha” rodeada de mata e água. Foi esta a impressão que tive na primeira ida neste paraíso de caiçaras que fica no extremo Norte do município de UBATUBA.



                Aproveito desta ocasião para um convite: vá conhecer a praia, o seu povo e a sua história. Ouça a sabedoria de pessoas que resistem bravamente às investidas da especulação imobiliária representada pelos grileiros, além do descaso das autoridades e dos poderes constituídos para garantir a cidadania. Procure primeiramente os anciãos como testemunhas da história. (Eu recomendo, apesar dos problemas de saúde, o seo Genésio). São essas pessoas Que permitem reconstituir a simbiose do homem com a natureza, originando o ser caiçara.



                Sinta a água gelada ao atravessar os dois rios antes de chegar às moradias dos quilombolas. Pise com cuidado nas pedras clareadas há séculos pelos pés dos negros que fugiram da escravidão. Hoje, quem continua nessa ação espontânea são os seus descendentes.



                Deixe-se impregnar pela atmosfera comunitária que envolve as casa de pau-a-pique, as farinhadas, os roçados... Enfim, todo o ambiente natural e os homens que continuam numa interdependência.



                Talvez você tenha o privilégio de tomar um café com mandioca cozida, além de escutar alguns causos reconfortantes, que perpetuam uma tradição oral. Sinta, na aparente fragilidade da dona Irene, a força da mulher caiçara. Ainda tem mais: ruínas de antiga fazenda e da serraria dos ingleses, manifestações de religiosidade, trilhas, organização comunitária, regatas de canoas etc.



                Eu fiz isso recentemente. A sensação de renovação é muito gratificante. A intenção era esta mesma: sentir a comunidade, saber da sua história e dos desafios que se apresentam. Afinal, precisamos valorizar o nosso povo, de como vai se integrando nos desafios deste século, sem abrir mão de nossas maiores riquezas: a natureza e a cultura caiçara. Tudo isso sem se omitir diante de gritantes injustiças: má conservação da estrada de acesso, rios carecendo de pontes, autoridades ambientais que negam as condições para um desenvolvimento sustentável, de manutenção cultural etc. São muitos os riscos que, desde os jovens até os idosos e doentes, correm constantemente nos caminhos do Camburi.



                A fala do seo Genésio deve ser levada mais a sério (também pelos mais jovens do lugar!). Ela soa como profecia-denúncia:

                “Acabando a nossa cultura, também acaba a natureza. Será que não somos filhos de Deus? Cadê os nossos direitos?”


                Vale a pena visitar e conferir!


                Sugestão final: Lá chegando, escute os sons do mato e das águas, sobretudo do mar, um eterno intiqueiro ( provocador) da costeira, da areia da praia, do jundu e do mangue. Isto é Camburi.

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