Olhando
um chapéu de palha de bananeira, saído das mãos da tia Ana, tive tantas recordações...
Muitas
vezes eu, com outros irmãos e primos, ajudávamos a Vó Eugênia na coleta de palha de bananeira para a
confecção das tranças que depois virariam chapéus para toda a família. Eles
eram partes das recomendações de cada dia. “O sol tá forte, põe o chapéu”, “Põe
o chapéu pra não pegar sereno”, “Vai
sair? Leva o chapéu”, etc.
Na
praia das Toninhas, chamada pelos mais velhos de Estoninhas, eu conheci a dona
Dorcelina, uma filha de escravos. Era mãe do Almeidinha. Fazia chapéu muito
bem.
Ver
a agilidade da bondosa anciã com as palhas era gratificante. Melhor era escutar
as suas histórias. Dizia que conheceu na praia da Lagoinha, trabalhando no “Engenho
do Estevené”, alguns parentes de seu finado pai. Eles contavam de um tempo
distante na “terra dos pretos, antes de serem negociados com gente sem coração
de Serra Leoa”.
“Os meus parentes...”, isto eu escutei em algumas ocasiões da Dorcelina, “...não cansavam de contar do lugar deles, onde quase tudo era feito de pedra e barro. Lá existia uma fortaleza que era famosa até depois de uma imensidão de deserto. Tinha rei que comandava muita gente.Trabalhavam com fundição de ferro muito bem. Produziam muito. Negociavam com povos distantes. Tinham a cobra como divindade”.
“Os meus parentes...”, isto eu escutei em algumas ocasiões da Dorcelina, “...não cansavam de contar do lugar deles, onde quase tudo era feito de pedra e barro. Lá existia uma fortaleza que era famosa até depois de uma imensidão de deserto. Tinha rei que comandava muita gente.Trabalhavam com fundição de ferro muito bem. Produziam muito. Negociavam com povos distantes. Tinham a cobra como divindade”.
O
causo de hoje também é dela:
“Em
uma ocasião o Dito Custódio voltava da Maranduba para a Lagoinha pela beira do
mar, distraidamente, à noite, no silêncio quebrado apenas pelo barulho das
ondas. De repente, sentiu um arrepio que lhe gelou o sangue no corpo. Sentia
que estava sendo seguido de perto. Se virou e viu uma figura estranha, parecia
um homem, cujo vulto se perdia em sombras. No momento em que parou para ver
se reconhecia alguém, a figura parou
onde estava. Quando voltou a andar a figura desconhecida voltou a segui-lo de
perto.
O
Dito ia para o lado do mar, molhando os pés na água e o vulto misterioso
desaparecia. Quando se distanciava da água o vulto reaparecia logo às suas costas. Então
ele chegou à conclusão de que aquilo não podia ser pessoa viva e, trêmulo,
começou a rezar em voz alta: Pai nosso, Ave Maria, Creio em Deus Pai... enquanto continuava a andar. Nervoso, fez uma
pausa em suas orações e, enquanto suspirava, ouviu a voz daquele que o seguia dizer
desdenhoso: ‘Tudo isso eu também sei...’ E foi acompanhando até o canto da
praia, no caminho do Bonete.
Por
ali Dito Custódio não voltou a andar sozinho”.
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