quinta-feira, 9 de agosto de 2012

PODERIA SER ENGENHEIRO



Nossos rios podem valorizar nossas canoas.
                Há alguns meses, vendo a limpeza do rio Tavares, na altura da ponte (BR-101), no bairro Sumaré, eu me recordei disso que escrevo a seguir.

                A Ditinha, filha do João Valério (vizinho dos guaiamus, na Barra da Lagoa), passou alguns anos na Itália, por volta de 1975, trabalhando com uma família na função de doméstica. De lá sempre enviava lindos cartões postais acompanhados de cartas carregadas de saudades.
                Certa tarde, sentado no portal de sua casa, com uma caixa de sapato repleta de cartas e de cartões postais, o seo João contemplava tudo. Vendo que eu passava por ali, me chamou para, com muito orgulho, me mostrar tudo aquilo tratado como tesouro valioso. De fato eram paisagens lindíssimas.
                Tendo na mão uma paisagem de Veneza, ele vislumbrou a seguinte possibilidade para a cidade de Ubatuba:

                - Essa cidade é linda de morrer! É tudo alagado, com embarcações servindo de carro. Você gostou também? Será que não dá para fazer isso na nossa cidade?

                E como eu ainda não tinha entendido nada, ele continuou:
                - Isso resolveria as ruas alagadas, cheias de buracos. Também daria emprego para muita gente, para o pessoal das canoas. Você consegue imaginar o compadre Florindo, o Aládio, o Paca e por aí vai, remando prazerosamente e sendo recompensados por aquilo que sabem fazer de melhor?

                Aí eu me interessei:

                - E como fazer isso, seo João?

                - Se aproveita os rios, criam-se canais. É mais fácil do que se possa imaginar! Exemplo: seguindo esse rio acima [Barra da Lagoa - Tavares], chegando onde é a Fazenda Velha, abre-se uma ligação com o rio Grande. Pode ser paralelo à estrada que já existe seguindo em direção ao Morro da Berta. Depois, aquela vala já  feita ao lado do campo de aviação, esticando um pouco mais, alcança o rio Tavares no Jardim Umuarama. Dali mesmo, pela rua Rio Grande do Sul, um outro canal iria até o Rio Grande, passando ao lado da casa do Zé do Orestes e do Bito Anagro. E por que não abrir outra ligação entre a Barra dos Pescadores, a vala do campo e a Barra da Lagoa, paralela à praia do Cruzeiro? E assim fazer mais alguns canais cortando o centro da cidade. Ah! Tem mais! Por mim, a praça Treze de Maio seria um bonito lago. Já imaginou que beleza!?

                De fato o homem conseguiu me impressionar! Poderia ser engenheiro!
                Por esses dias, depois de ouvir o projeto do antigo morador, agora já falecido, o meu amigo Rogério fez o seguinte comentário:

                - Hoje em dia é até difícil de imaginar esse sonho, Zé. Principalmente porque a referência predominante é a realidade de Ladainha, em Minas Gerais. E ela é bem diferente de Veneza!

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