Coisa que nem lobisomem dispensa: café com farinha de mandioca e peixe frito! |
“Muitos
não pensam, mas aqui é mundo”. Assim, querendo justificar a história do tio
Manequinho, o Alcides Lopes começou a prosa num serão distante, na praia da
Enseada. A intenção, pelo que entendi depois, era mostrar que muitas das nossas
histórias, dos tantos causos dos caiçaras, pertencem a uma literatura
universal. O exemplo naquela ocasião era o Lobisomem.
De
acordo com o narrador, “nos tempos antigos, principalmente em Roma, cheia de
crueldades, havia até uma tradição religiosa chamada Lupercais, onde o
Lobisomem era festejado. Depois, a partir do crescimento do catolicismo, essa
festa foi substituída por outra por nome de Purificação”.
Vendo
que todos tinham muito interesse no assunto, prosseguiu o falante pescador.
Mais experiente do que ele só o velho Henrique, que também escutava o falatório,
sempre assentindo com a cabeça conforme o seu costume.
“Então,
diante disso, numa ocasião o vovô e mais dois amigos sairam para pescar.
Estavam logo ali, para fora da Ponta dos Cações, pescando sororoca de currico.
Era noite de lua cheia; tudo estava claro. De repente um vento forte começou a
assobiar bem longe: sinal de tempestade chegando rápido.
A
canoa estava cheia de peixe; hora de voltar para casa. Com um tempo desse
não se brinca! Força nos remos! Ao
entrar na barra, a canoa virou. Vovô nadou até a beira do rio. Logo avistou um
de seus amigos, o Lodônio da Cruz. O outro, que eu não vou citar agora,
tinha sumido.
A
água ficou vermelha de sangue dos peixes que já haviam limpado durante a
pescaria. Os dois começaram a se preocupar com o amigo que custava a aparecer.
O medo estava presente. Vovô, surpreendido por um cutucão, deu um grito. Porém,
não era nada de grave. O outro amigo reapareceu. Só que voltara com as roupas
todas ensanguentadas e os dentes sujos. Não explicou nada.
Vovô
ficou assustado. Há tempo não se conformava com os misteriosos sumiços desse
amigo sempre em noites de lua cheia. Também o que presenciara era medonho. De
volta para a sua casa, em silêncio, ele jurava que aquele homem, colega de
tantas empreitadas, era na verdade um lobisomem. Por isso que, ao ver sangue,
aproveitou para fugir”.
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