quarta-feira, 15 de agosto de 2012

AQUI É MUNDO


Coisa que nem lobisomem dispensa: café com farinha de mandioca e peixe frito!

                “Muitos não pensam, mas aqui é mundo”. Assim, querendo justificar a história do tio Manequinho, o Alcides Lopes começou a prosa num serão distante, na praia da Enseada. A intenção, pelo que entendi depois, era mostrar que muitas das nossas histórias, dos tantos causos dos caiçaras, pertencem a uma literatura universal. O exemplo naquela ocasião era o Lobisomem.

                De acordo com o narrador, “nos tempos antigos, principalmente em Roma, cheia de crueldades, havia até uma tradição religiosa chamada Lupercais, onde o Lobisomem era festejado. Depois, a partir do crescimento do catolicismo, essa festa foi substituída por outra por nome de Purificação”.

                Vendo que todos tinham muito interesse no assunto, prosseguiu o falante pescador. Mais experiente do que ele só o velho Henrique, que também escutava o falatório, sempre assentindo com a cabeça conforme o seu costume.

                “Então, diante disso, numa ocasião o vovô e mais dois amigos sairam para pescar. Estavam logo ali, para fora da Ponta dos Cações, pescando sororoca de currico. Era noite de lua cheia; tudo estava claro. De repente um vento forte começou a assobiar bem longe: sinal de tempestade chegando rápido.

                A canoa estava cheia de peixe; hora de voltar para casa. Com um tempo desse não se brinca!  Força nos remos! Ao entrar na barra, a canoa virou. Vovô nadou até a beira do rio. Logo avistou um de seus amigos, o Lodônio da Cruz. O outro, que eu não vou citar agora, tinha sumido.

                A água ficou vermelha de sangue dos peixes que já haviam limpado durante a pescaria. Os dois começaram a se preocupar com o amigo que custava a aparecer. O medo estava presente. Vovô, surpreendido por um cutucão, deu um grito. Porém, não era nada de grave. O outro amigo reapareceu. Só que voltara com as roupas todas ensanguentadas e os dentes sujos. Não explicou nada.

                Vovô ficou assustado. Há tempo não se conformava com os misteriosos sumiços desse amigo sempre em noites de lua cheia. Também o que presenciara era medonho. De volta para a sua casa, em silêncio, ele jurava que aquele homem, colega de tantas empreitadas, era na verdade um lobisomem. Por isso que, ao ver sangue, aproveitou para fugir”.

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