sexta-feira, 17 de agosto de 2012

COISAS DO SABÁ


       Muitos dos que conheceram Silvério Sabá ainda estão vivos. Por isso me entenderão melhor. Aos demais, acolham com carinho as contribuições desse caiçara que nos deixou há algum tempo.
          Sabá morava na praia da Enseada; no final de sua vida era vendedor de peixes. Um ritual dele: passar a cada dia no bar onde eu trabalhava para comprar cigarro e jogar fora algumas palavras. Eu adorava escutar os seus causos.
          Sabá, descendente de escravos, era um negro alto, sempre de bem com a vida, mas que tinha o hábito de se lamentar sob a forma de brincadeiras. Não sei de onde eram os seus ancestrais africanos, mas ele falava de um tal de Arco-íris de Uidá. Era de onde chegou até ele (Sabá) muitas das coisas que sabia. Ainda hoje me recordo de uma ocasião, sabendo que o Zé da Nhanhã estava com a “boca ruim”, apareceu o preocupado negro, já no final da tarde, depositou no balcão um maço de raízes e disse assim:

         “Pegue isto, Zezinho. Dá um jeito de entregar para o Zé da Nhanhã. É raiz de malva branca e serve para curar gengivas. Explique que é preciso ferver e enxaguar a boca três vezes ao dia. Depois eu colho mais”. E funcionou mesmo!
          Em outra ocasião, durante a prosa, contou o seguinte:

         “O lugar dos meus avós - bem distante daqui !- numa ocasião estava assombrado. Havia comentários que tinha um bicho assustando os viajantes que passavam por ali à noite. Era um monstro de muitos braços e pernas. Não deixava ninguém passar pelo caminho.


         Vários homens se reuniram para acabar com o tal bicho, mas desistiram quando estavam perto do lugar (porque o medo era demais). Só um homem, chamado de Benedito, pegou a sua foice e disse que tiraria essa a história a limpo.

         Ele foi chegando já preparado para o pior. O monstro estava lá com suas pernas e braços. Mesmo com muito medo, Benedito foi em frente: pegou sua foice e passou a atacar o medonho. Ele se levantava, mas o homem continuou a dar foiçadas. Depois o monstro não se levantou mais.


         No dia seguinte, nas primeiras luzes da manhã, todos do lugar foram ver o horroroso que se findara. Foi um grande espanto! No lugar da luta, o que se via era um coqueiro todo destruído”.

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