Quase sempre os pescadores caiçaras pescam em duplas |
Há
anos eu tenho coletado uma série de histórias que aconteceram com caiçaras.
Pode ser que muitas delas sejam somente frutos da imaginação, mas também tem as
intrigantes. Elas eram contadas em rodas
de causos, num tempo onde as pessoas não se importavam muito com televisão e
prezavam uma boa prosa como arremate de cada dia. Os nossos olhos brilhavam;
todos escutavam com muita atenção. Era possível se arrepiar e até enxugar, vez
por outra, as lágrimas de emoção ou medo.
Hoje
eu relembro o que viveram o Dário Barreto e o Oscar Coelho. O primeiro, filho da tia Albertina e do tio Custódio da Fortaleza, era um bom contador de causos. De ambos nós só temos a viva lembrança.
Numa
ocasião os dois queriam pescar na Ilha Anchieta. Só que o Oscar não estava
com muita animação porque era Semana Santa, "tempo de preceito", de se guardar, de deixar de
fazer muitas coisas do cotidiano (caçar, pescar, bailar etc.). Mas mesmo assim
eles decidiram ir: saíram na sexta-feira com a intenção de voltar no domingo.
Estando
na ilha, no sábado, já de tardezinha, eles embarcaram na praia da ilha e foram
para o outro lado pescar peixe espada. No fim da pescaria,
com muitos peixes no balaio, uma coisa preta cobre toda a canoa, não se vê nada
por um bom tempo. Dário assustado grita o nome do Oscar. Este não responde
nada. (Depois disse que não escutou). Quando a escuridão passou, os dois
remaram até a costeira, romperam o serão rezando. Passaram a noite lá, sem
coragem de voltar para a praia, onde ficava o rancho dos pescadores.
No
dia seguinte acordaram pensando que
fosse um sonho o que viveram. E aí, cadê a canoa? Ela sumiu porque eles deixaram
de amarrá-la. Resultado: tiveram de andar pelas pedras e nadar de volta até o
local do rancho, na praia. A surpresa: lá estava a canoa, devidamente encalhada
na areia, com os peixes e remos dentro, sem perder nada. Na mesma hora eles saíram
rapidinho daquele lugar. Depois disso nunca mais voltaram a pescar em ocasião
assim (de Semana Santa).
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