sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

NOVIDADE DO DIA

Pé de bacupari - Arquivo JRS

 

Bacupari-açu - Arquivo JRS



     Valtinho passou cedo. "Vamos buscar água na bica?". E lá fomos nós na direção do Horto Florestal.
   
     A Estação Experimental do Horto Florestal existe em Ubatuba desde a primeira metade do século passado. Já foi um importante centro de pesquisa, mas nos últimos trinta anos a política do Estado de São Paulo segue a do país: deixar de investir para ter argumentos à privatização (exigência do capitalismo). Por isso não se contrata mais funcionários, encerram-se as pesquisas e os últimos trabalhadores aguardam a aposentadoria, mal dando conta de roçar o mato e de manter a aparência,  de ter alguém por ali como se dissesse que não está abandonado o local. Mas é notório e triste a situação. "Tá vendo tudo isto, amigo? Logo será privatizado, irá parar nas mãos de quem vai explorar isto visando apenas o lucro imediato. Este bem público será praticamente dado à iniciativa privada. Você acha que, quando isso acontecer, nós poderemos entrar tranquilamente por aqui, ver isso tudo, passear, pegar água, coco, frutas do mato etc.?". Valtinho ficou pensativo. Só os omissos, ignorantes e aproveitadores não enxergam as consequências dessas privatizações que se deram por iniciativa do Governo Federal (gestão FHC), na década de 1990. Os desastres ambientais, as barragens se rompendo estão comprovando isso. A  ruína no nosso Horto é o exemplo mais próximo. Quantos estudantes poderiam estar se capacitando ali para entender melhor esse nosso entorno verde, evitar a extinção de espécies, pesquisar outras possibilidades à vida coletiva,  decidir por uma filosofia planetária, amar e defender a nossa "galinha de ovos de ouro"? Quantos cidadãos poderiam estar atuando ali de forma voluntária, preocupados com as gerações mais novas e futuras, pensando alternativas significativas à sociedade local?

    Continuamos subindo o caminho da bica, da "Fonte da Amizade".  Notei uma folha conhecida, tal como a de bacupari, uma das muitas frutas da Mata Atlântica. Estranhei porque era muito grande, o dobro da nossa tão familiar bacupari-de-bico. "Mas é bacupari, Valtinho!". "Será, Zé?". "Vamos esperar o tempo dele, o mês de janeiro". Dito e feito! Nesta semana confirmamos: "É outra espécie de bacupari, Valtinho. Tá amadurecendo; vamos provar". 

   Essa  espécie prova o quanto de riqueza ainda temos a descobrir na natureza, na mata que nos rodeia. Depois do bacupari-de-bico (que eu achei por quase toda a vida que fosse único), conheci o bacupari-limão, bem redondinho. E agora esse imenso bacupari, com mais polpa e um gosto mais ácido. Adorei. Colhi alguns para mostrar ao pessoal de casa e apresentar agora, neste texto. As sementes darão novas plantas. Irei pesquisar se há registro dele, se há nome... Por enquanto, será bacupari-açu. Que fim teria essa planta se esse espaço já fosse privatizado? Com toda a certeza eu e o meu amigo não estaríamos circulando tão livremente, podendo olhar tudo com tanta atenção. Ou ali passaria uma estrada pavimentada? Ou tudo viraria gramado com churrasqueiras para quem pudesse pagar a diária? Ou teria um centro de convenções? Ou viraria pasto? Ou..ou..ou...?

   Viva essa biodiversidade preservada pela cultura caiçara! Que venham estudantes afoitos por essa herança que nos coube! Que chegue a cidadania plena!

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