Desequilíbrio: carcará na cidade (Arquivo JRS) |
O dia já completava hora que clareara. As grimpas dos morros brilhavam. Pensei: "O calor hoje esturrica a nossa terra. Bom para praia e para secar roupas". De repente, um grupo de adolescentes/jovens vem pedalando em sentido contrário, vindo da cidade. Certamente estiveram festejando na avenida, em alguma balada. Antigamente se dizia que quem passava a noite em claro, perambulando, era lobisomem que "passou correndo sete praias". A noite era para dormir, descansar. Não demora muito para vermos mais gente preferindo viver intensamente pelas noites, evitando os dias. O que é isso? É desequilíbrio!
O mano Mingo, na poesia Desequilíbrio, indica que muita coisa mudou a partir da invenções que desnudaram as noites. Aqueles fenômenos fantásticos de outros tempos se foram, buscaram outros refúgios. Então esta é uma verdade: a luz elétrica quebrou o encanto da escuridão, acabou com as assombrações. Outra verdade: devemos usar a luz da razão, entender que não devemos cultivar o instinto de morte que caracteriza o atual domínio das sombras que paira sobre o nosso país e no mundo.
Antigamente o tempo era dividido direitinho
entre a claridade do dia e a escuridão da noite.
A luz iluminava os seres humanos e seus ofícios,
que, de tanto elucubração,
inventaram archotes, lâmpadas a óleo, lampiões de gás,
luz elétrica e foram avançando
sobre os domínios das sombras,
chegando ao ponto de não restar aos boitatás
senão o refúgio no espaço das lendas.
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