sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

DESEQUILÍBRIO


Desequilíbrio: carcará na cidade (Arquivo JRS)


   O dia já completava hora que clareara. As grimpas dos morros brilhavam. Pensei: "O calor hoje esturrica a nossa terra. Bom para praia e para secar roupas". De repente, um grupo de adolescentes/jovens vem pedalando em sentido contrário, vindo da cidade. Certamente estiveram festejando na avenida, em alguma balada.  Antigamente se dizia que quem passava a noite em claro, perambulando, era lobisomem que "passou correndo sete praias". A noite era para dormir, descansar. Não demora muito para vermos mais gente preferindo viver intensamente pelas noites, evitando os dias. O que é isso? É desequilíbrio! 

  O mano Mingo, na poesia Desequilíbrio, indica que muita coisa mudou a partir da invenções que desnudaram as noites. Aqueles fenômenos fantásticos de outros tempos se foram, buscaram outros refúgios. Então esta é uma verdade: a luz elétrica quebrou o encanto da escuridão, acabou com as assombrações. Outra verdade: devemos usar a luz da razão, entender que não devemos cultivar o instinto de morte que caracteriza o atual domínio das sombras que paira sobre o nosso país e no mundo. 


Antigamente o tempo era dividido direitinho

entre a claridade do dia e a escuridão da noite.

A luz iluminava os seres humanos e seus ofícios,

que, de tanto elucubração,

inventaram archotes, lâmpadas a óleo, lampiões de gás,

luz elétrica e foram avançando

sobre os domínios das sombras,

chegando ao ponto de  não restar aos boitatás

senão o refúgio no espaço das lendas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário