sábado, 29 de janeiro de 2022

OUSE EDUCAR!

Lindas, no caminho. Arquivo JRS

   Estou atento à estreia de um programa sobre educação no Brasil; dele tirei o título da crônica. Ao mesmo tempo vou pensando que, na próxima semana, inicia-se o ano letivo de 2022 com uma variante do vírus da atual pandemia tendo preferência por crianças. Situação crítica, sobretudo porque é vergonhoso o índice de vacinação dessa faixa etária no nosso país. Maior vergonha - e crime! - é o governo federal fazendo propaganda contrária à vacinação.

  Me lembro muito bem das campanhas de vacinação entre a população caiçara desde o meu primeiro ano escolar (minha carteirinha é histórica, está bem guardada). A famosa  pistola, por ocasião da campanha contra a meningite (primeira metade da década de 1970), foi assustadora. Hoje, tudo evoluiu. Só a ignorância e/ou maldade negam a ciência e as vantagens de prever males piores. E de onde vem toda essa ciência, sustentáculo de tanta tecnologia? Da educação escolar! Portando, a primeira função da escola é desenvolver a ciência para garantir a evolução da história humana. A socialização e outros aspectos surgem na esteira dessa função. Se não continuarmos isso, retornamos à barbárie.

   Retomo às escolas do nosso município de Ubatuba, me recordo das escolas e dos mestres e mestras de outro tempo. Por exemplo, existiu por muitos anos uma escola por nome SESI (Serviço Nacional da Indústria). Eu a conheci funcionando na esquina das ruas Conceição e Rio Grande do Sul, onde hoje é a Escola Infantil Idalina Graça. Fui procurar mais dessa escola no livro da Tia Helô. Que bom que a nossa saudosa mestra nos legou suas memórias!


  Foi trazida [a escola SESI] pela professora Day Ferreira Gomes. Ela, com talento para um jeitinho para tudo, conseguiu esse feito, ou seja, trazer para uma cidade pesqueira um empreendimento educacional destinado às cidade fabris.
 
  Era uma instituição cheia de normas, regras e hierarquias às quais não estávamos habituados; quando um diretor de São Paulo aparecia aqui, nós professores éramos reunidos em uma das salas, e como soldados no quartel, éramos obrigados a ficar em pé, aguardando que o "general" adentrasse.

 Por ocasião de uma dessas visitas, quando um professor mais distraído, não percebendo a presença do diretor, continuou sentado, teve a atenção chamada pelo mesmo, que gesticulando, ordenou que o professor se levantasse. Mas foi, talvez, a escola mais democrática de Ubatuba e a que mais valorizou o professor  no campo salarial. Querida pelos alunos, professores e pais, foi também um marco no ensino de nossa cidade.

  O seu começo foi humilde: funcionou em três salinhas alugadas das Madres da ALA, na Rua Dona Maria Alves, com a aval da inesquecível  Madre Maria da Glória, verdadeira dama no trato com as pessoas, dona de um encanto especial para ministrar suas aulas de música, piano e artes em geral. As salas alugadas recebiam alunos do antigo primário, sob a responsabilidade de excelentes professores com Wanda e Wilma Reis, Josefina Giglio Silva, Elizabeth Valério, Iraceminha, Lourdes Ballio, Cléa e outras. Dessas salas na Dona Maria Alves, mudou para o final da Rua Cunhambebe e depois para a esquina da Coronel Domiciano com Esteves da Silva, numa garagem que foi adaptada para tal. Mais tarde chegou ao seu lugar definitivo [onde eu a conheci, na esquina da Conceição e Rio Grande do Sul] assim que comecei a frequentar o centro da cidade]. Foram vinte anos de funcionamento extraordinário.

 Detalhe interessante nas palavras da saudosa mestra: 

  A definitiva localização da escola era inadequada, pois o lugar era deserto, com trilhas em vez de ruas, cobertas de mato. Rua mesmo só até a Praça Treze de Maio. De lá para trás, era só um matagal, a Mata Atlântica. Mesmo assim, o SESI foi um sucesso, pois o local apesar de deserto, abrangeu uma comunidade em formação, lugar de migrantes que desciam a Serra do Mar, vindos do interior e ali se fixavam.


  Ouse educar! Viva o país de Paulo Freire, de Anísio Teixeira, da professora Heloísa Teixeira e de tanta gente boa que nos legou uma BOA EDUCAÇÃO!


Referência: A saga de uma caipira em terra caiçara de Ubatuba, de Heloísa Maria Salles Teixeira.

Em tempo: longa vida ao programa Ouse Educar! Parabéns Eduardo Moreira e equipe! 

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